sábado, 31 de maio de 2014

Arte Militante, Já!

Estão dizendo por aí que o Brasil não está em crise. Outros dizem que os problemas sociais são culpa do diabo. Outros tantos dizem que o cassetete deve cantar no lombo de manifestantes e que estes devem ser processados e se possível presos. Se estes discursos influem sobre a consciência do proletariado, nós temos não apenas o direito mas o dever militante de produzir imagens, e fazer circular concepções estéticas, que apresentem uma interpretação materialista e combativa da realidade brasileira. Tomamos a arte como front porque acreditamos que a classe trabalhadora será portadora de uma nova sociedade e logo de uma cultura verdadeiramente humana. Não podemos compactuar com as distorções ideológicas floridas por bandeirinhas, bolas, chuteiras e por detalhes melodramáticos da vida pessoal de jogadores de futebol. O artista deve criar outras imagens, que introduzam nos espaços públicos, digitais, de trabalho e de estudo a visão contestadora perante a atual sociedade brasileira.
  Acabou o tempo de dormir e ficar de papo pro ar. Imagens de contestação e denúncia social são requisitadas pela História. Uma produção de peso deve ocupar o lugar da cultura que está apodrecendo nas mãos da burguesia. Sozinhos, em pequenos coletivos, em partidos e em ligas, os artistas precisam compor um amplo setor especializado no choque contra as formas da ideologia dominante. 


                                                                      Conselho Editorial Lanterna 

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A família proletária com Brecht contra o capital:

Um partida de futebol enche os olhos da família inteira. Bastaria um gol, uma vitória do time favorito, para que nesta casa de trabalhadores toda a pindaíba seja esquecida?As dificuldades, colossais, encontradas para atuar no espaço cultural do proletariado brasileiro, podem desanimar o teatrólogo sem fibra. Mas recorrendo ás lições de Economia Política do marxismo, temos a favor do teatro político um fator inquestionável: quando a infraestrutura balança, a ideologia da classe dominante torna-se mais fragilizada. Logicamente que a coisa toda não é mecânica, mas se a representação do mundo em nossas mentes modifica-se perante a realidade concreta(e falo aqui do Brasil de hoje, com sua economia lascada), então o teatro poderá contribuir para reorientar a realidade do povo brasileiro.
  Na História do nosso teatro, raros são os momentos em que a dramaturgia de Bertolt Brecht(até agora insuperável enquanto método teatral) foi apresentada para a classe trabalhadora. O lugar do Teatro Dialético não é entre universitários que topam montar qualquer coisa(inclusive, e indevidamente, Brecht). Felizmente hoje, alguns grupos teatrais socialistas brasileiros montam peças identificadas ou próximas da estética brechtiana. Sim, o problema maior está em fazer os trabalhadores saírem de frente da Tv(ou da internet) para ir até o teatro. Mas, como afirmei anteriormente, a crise econômica empurra para a necessidade de uma interpretação crítica da realidade; portanto as ideias de Brecht, adaptadas para o atual contexto político, podem ser úteis em espetáculos montados em sindicatos e escolas, por exemplo. Nestas circunstâncias, o distanciamento crítico impulsiona um outro olhar sobre " os gols ".


                                                                                           Geraldo Vermelhão

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Literatura Bolchevique:

Lênin foi claríssimo quando referiu-se ao papel da literatura em 1905: " (...)A literatura deve tornar-se literatura do partido. Abaixo os literatos não partidários! Abaixo os super homens da literatura! A literatura deve tornar-se parte da causa geral do proletariado "(...) É preciso dizer mais alguma coisa? Qualquer um que presa pelas capacidades incendiárias do papel e da tinta, que concebe a prosa e o verso enquanto manifestações estéticas inerentes á realidade política, deve assumir a perspectiva bolchevique. É isso ou assumir de vez seus caprichos pequeno burgueses que levam livros para torres de marfim.
  De que adianta, do ponto de vista revolucionário, ficar na " autonomia " tão defendida por alguns  colaboradores deste blog, simpatizantes do surrealismo e da Beat? A literatura deve estar aonde a classe operária está! Falar a sua língua, tematizar os seus problemas, seus dramas e necessidades. Um bom romance que não se comunica com o povo não passa de obra de arte bem feita. Será que isto é suficiente? Além das estratégias estéticas capazes de exprimir o projeto comunista, a literatura deve estar articulada ás organizações políticas de esquerda(nunca me cansarei de bater nesta tecla). É hora de textos impressos e digitais ocuparem os espaços da luta de classes e combater a mídia burguesa que só fala de bola no pé para estômagos vazios.


                                                                                             José Ferroso

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Samba que o imperialista não quer ver:

Como não acredito em fronteiras culturais, acho que os gringos devem ser bem recebidos nestes tempos de Copa. Porém, não podemos aceitar as caricaturas que o imperialismo estabelece. A palavra "samba" por exemplo, deve ser retirada do seu aspecto paradisíaco, de " curiosidade musical ", tão ao gosto de alguns turistas bobos alegres. Não aceitando o crivo de " exótico ", o nosso canto, o nosso batuque e a nossa dança não são frutos de alegria alienada: elas exprimem a alegria do guerreiro que não aceita as regras da classe dominante(sejam estas da nossa burguesia ou de qualquer outra).
  Se somos capazes de tirar ritmo de uma caixinha de fósforo e cantar apesar de todas as desgraças herdadas, é porque não temos vergonha de expressar quem somos nós. É porque não temos medo de protestar e mostrar que neste país, assim como em qualquer outro país capitalista, a cultura está condicionada pela luta de classes. Deixem os gringos sambarem. Deixem os gringos baterem fotos da nossa miséria econômica. Enquanto eles fazem isso, nós explicamos pela alegria trágica do samba que o povo não tem sorriso dócil: o povo tem sorriso de combatente. 


                                                                                        Tupinik 

terça-feira, 27 de maio de 2014

As fontes da nossa modernidade não envolvem apenas as vanguardas concretistas:

O Concretismo e outras correntes como a dissidência Neoconcreta, envolvem como é sabido, um importantíssimo sopro vanguardista no Brasil a partir dos anos cinquenta. Foi uma chapuletada no conformismo estético que reinava nas artes brasileiras, em especial na literatura com a chamada Geração de 45. Entretanto, como vem sendo debatido nos últimos anos, existe uma produção literária/artística, sobretudo na década de sessenta, que não tem nada a ver com geometria, com arte de proveniência  construtivista. 
  Enquanto alguns experimentavam o Pop e outros se entregavam á arte popular nacionalista de " esquerda ", pequenos coletivos atualizavam a arte brasileira com as experiências do Surrealismo e da Beat Generation. Estes últimos devem receber uma atenção maior de nossa parte, afinal o concretismo ao longo do tempo gozou de grande prestígio na imprensa, nos grandes centros culturais e na universidade. Destino diferenciado tiveram surrealistas e beatniks brasileiros, em grande parte marginalizados pela crítica e pelo meio acadêmico. Observações cretinas foram(e são feitas) inclusive por " especialistas ': o surrealismo seria um fenômeno tipicamente francês do entre guerras, ao passo que a Beat diria respeito tão somente ao contexto cultural norte americano. Esta visão reacionária, limitada e portanto incapaz de compreender estes fenômenos como internacionalistas(e diga-se de passagem, com grande repercussão entre jovens poetas da atualidade), deve ser combatida. Não se trata de opor Surrealismo e Beat ás correntes concretistas, afinal esta seria uma atitude unilateral, que troca seis por meia dúzia. É preciso defender sim, concepções em que a " inspiração ", " as iluminações " de Rimbaud são tão importantes para nossa modernidade artística quanto a precisão das formas concretistas.


                                                                                 Os Independentes

segunda-feira, 26 de maio de 2014

" O jovem " Godard contrasta com a França reacionária de 2014:

Jean Luc Godard, 83 anos, ainda está entre os jovens mais atrevidos do cinema mundial. Enquanto a extrema direita avança em torno de Marine Le Pen, assustando até mesmo o mais distraído amante da liberdade, Godard desafina com sua ética do cinema de autor. Seu último trabalho Adieu Au Langage exibido na semana de passada durante o Festival de Cannes, mostra que a poesia enquanto experimento pode ser o essencial da arte cinematográfica.
 Godard, que classificou seu filme como " uma valsa ", foi calorosamente aplaudido em Cannes. Mas ainda assim, mesmo que não tivesse sido, o cineasta permanece enquanto defensor da liberdade, contrastando com o cenário político francês. Não importa qual seja o seu objeto, o cinema de Godard encerra uma grande mensagem: o audiovisual é um campo de possibilidades, de pesquisa e busca por uma linguagem livre. Godard nos mostra que se o cinema não cabe em Hollywood, tão pouco o futuro político da Europa caberá na nova onda direitista. O jovem cineasta, com mais de oitenta anos,  continuará rimando cinema com revolução.

                                                                                               Lenito 

domingo, 25 de maio de 2014

O Coletivo " Yes Man " aborda a Sabotagem Cultural durante a Copa do Mundo:

Foi um bafafá danado a palestra do artista Sean Dagohoy ,em sampa. Ele pertence ao grupo norte americano Yes Man, voltado para o ativismo que promove sabotagens contra a caretice do mundo corporativista. Ao apropriarem-se de signos, fazerem-se passar por representantes de multinacionais, estes artistas apresentam uma produção de contra-informação que é um verdadeiro tijolo no sapato de vários capitalistas. As palavras de Dagohoy no Centro Cultural de São Paulo, funcionaram como uma espécie de inspiração para ações culturais ás vésperas da Copa do Mundo. Esta palestra apenas confirma que as ideias do coletivo estão cada vez mais presentes nos debates estéticos do Brasil, em especial entre militantes que desejam exprimir suas críticas aos gastos absurdos e ao espetáculo alienante em torno da Copa. 
  O contato com as práticas de coletivos como o Yes Man , auxiliam na pesquisa de novas formas de sabotagem cultural para os dias da Copa: o espaço público é utilizado para a subversão dos signos, para a criação de imagens, objetos e situações que levam ao estranhamento da paisagem urbana. O legal nisto tudo é que desde já notamos o fermento de crítica, de agitação, de fomentação de um sentimento negativista que fazendo uso da experiência estética, questiona os rumos políticos do país em plena fabricação da onda nacionalista de chuteiras. Sei até que ponto vários dos meus companheiros de redação, identificados com uma certa ortodoxia marxista, podem achar todo este papo de Culture Jamming  bobagem pós-moderna. Porém, se eles desejam utilizar a dialética para inserir a arte no combate político, sugiro que eles observem com atenção este fenômeno novo, do qual o Yes Man é uma das expressões internacionais. Desde os anos oitenta, coletivos de artistas se valem da releitura do melhor da antiarte e de novas realidades expressivas como a chamada street art, para colocar em maus lençóis os grandes símbolos do poder capitalista. Quando tudo torna-se mercadoria e a miséria aumenta, é hora de tentar sufocar a cultura dominante com seu próprio lixo. 


                                                                                   Marta Dinamite

sexta-feira, 23 de maio de 2014

O romancista e as bandeiras:

A posição política do escritor não garante de antemão boa literatura. Tão isto é verdade que seja entre os romancistas de direita ou entre os romancistas de esquerda, a narrativa mal feita não pode ser salva por nenhuma ideologia. Se nos empenhamos aqui em comentar e difundir concepções estéticas que visam fortalecer no âmbito da cultura o projeto do socialismo, então é preciso prestar atenção no valor expressivo das obras de arte e não simplesmente dar uma de propagandista de qualquer coisa.
 No caso da literatura, e em especial do romance, o objetivo está em criar situações capazes de fazer explodir as contradições da sociedade capitalista. É a narrativa um importante fio de reconstitui na cabeça do leitor a brutalidade da classe dominante. Ao romancista cabe elencar de acordo com a sua sensibilidade, o que deve ser contado/narrado para alguém: se é a vida de personagens que esbanjam grana,como um jogador de futebol milionário, se são as próprias lembranças do autor desconectadas na História política ou a  difícil vida de trabalhadores que sofrem com transporte caro, comida cara, falta de hospitais e acidentes(por vezes mortais) no trabalho. Entretanto, a maneira como isto é estruturado no plano do texto depende da técnica literária que não levanta de qualquer jeito a bandeira política. A bandeira deve ser erguida na consciência do leitor devido a uma prosa de qualidade, capaz de fazer sentir a necessidade de destruir o capital.


                                                                                   Lúcia Gravas

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Oswald de Andrade fez teatro de tese e não mistureba pós-moderna:

Insisto mais uma vez em tomar o teatro de Oswald de Andrade como base para uma reeducação libertária dos trabalhadores brasileiros. Era o que ele pretendia com o seu manifesto Do Teatro Que é Bom, publicado nos anos quarenta. Mas ao promover Oswaldão faço questão de situar o seu teatro enquanto arte de esquerda e não simplesmente dramaturgia pós-moderna, como querem alguns que nunca tiveram coragem e envergadura ideológica para aderir ao comunismo. Com isso quero dizer que geralmente a crítica burguesa procura perdoar-lhe " o pecado comunista ", esvaziando o Oswald militante dos anos trinta e desconectando a sua inquietude estética dos seus propósitos ideológicos. 
 Ninguém é perfeito: Oswald escorregou na casca de banana de Stálin e levou alguns tombos. Mas isto não invalida o esforço do arauto de 22 em engajar-se na luta proletária e eleger o teatro enquanto arma anticapitalista. O antropófago possui compatibilidade total com o marxismo. O que ele não engolia(mesmo que tentasse) eram as bobagens do stalinismo. A violência poética contida em inúmeras técnicas de vanguarda, aproximam como se sabe, o teatro de Oswald ao de Maiakóvski, Brecht e Piscator. Ou seja é o teatro de tese que exige uma forma revolucionária e ao mesmo tempo um conteúdo de combate. O Rei da Vela, A Morta, O Homem e o Cavalo e Panorama do Fascismo são peças que não cabem nos quadros do pensamento estético pós-moderno e seu relativismo nietzscheano, geralmente com consequências individualistas e portanto reacionárias. Oswald de Andrade fez teatro de tese voltado para os trabalhadores e não teatrinho para classe média curar seus fantasmas inconscientes. 


                                                                     Geraldo Vermelhão 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Devemos cultivar o cineclubismo:

A vastidão da experiência audiovisual hoje, é um negócio louquíssimo e irrefreável. Com o cotidiano feito de telas com imagens em movimento, qualquer revolucionário que se preze tem que ter uma noção mínima do papel ideológico na linguagem cinematográfica. É preciso que todo militante conheça um pouco da História do cinema, para conseguir obter referências acerca de uma gramática audiovisual capaz de desconstruir a engrenagem do capitalismo. 
 É por estas e outras que o cineclube cumpre um papel indiscutível para a prática cultural anticapitalista. O cineclube nos mostra que o significado do filme não está dado, sendo necessário o permanente debate sobre filmes antigos e novos. Um filme nunca está terminado até que os espectadores o interpretem. Tanto as organizações de esquerda quanto o movimento estudantil sabiam disso. Será que o cineclubismo está para ser esquecido perante as novas engenhocas do audiovisual? Eu penso que é exatamente o contrário: se todos podem produzir audiovisual então a experiência da exibição não pode ficar em telinhas mas precisa circular por salas públicas de cinema. Novos autores cinematográficos podem surgir a partir do estudo do cinema e da criação cotidiana. Um cinema revolucionário, capaz de fazer oposição á mídia capitalista, precisa de salas públicas de exibição. Isto é uma das missões culturais da esquerda brasileira.


                                                                             Lúcia Gravas 

terça-feira, 20 de maio de 2014

Velhos cartazes, novos cartazes:

O cartaz é uma estratégia estética válida no ano passado e neste ano. Precisão, força comunicativa, fácil de transportar. Se as jornadas de junho de 2013 deixam um importante legado estético, este está longe de virar jornal que embrulha banana. A validade destes cartazes soma-se á novas situações políticas,aflorando a sensibilidade gráfica. Persistir na intervenção artística de protesto significa guerrear contra a simbologia da mídia burguesa, promotora de imagens que não correspondem aos fatos. A arte gráfica pode dar novo significado ás cores: opondo-se ao nacionalismo ela pode dizer que o verde é de raiva e o amarelo de fome. São os cartazes que também ajudam a criticar e questionar a tese furada de que o problema do Brasil está " no planejamento das cidades ", sendo que o problema central ainda está nas relações conflituosas entre empresários e trabalhadores.
  O legal mesmo seria se a arte gráfica continuasse acompanhando o ritmo dos movimentos sociais, tornado-se expressão direta da crítica e do inconformismo. Momento mais propício não há: com meio milhão de gringos chegando para a Copa, chegou a hora de expor pelo uso do cartaz, que as coisas neste país não estão nada bem.


                                                                                     Os Independentes 
 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Nova edição da peça " A Lata de Lixo da História ", de Roberto Schwarz:

O crítico literário marxista Roberto Schwarz, lança no fim do mês uma edição novinha em folha da peça A Lata de Lixo da História(esta nova edição sai pela Companhia das Letras).O texto foi originalmente escrito pelo autor em fins dos conturbados anos sessenta, mais especificamente sobre a atmosfera barra pesada do AI-5 de 1968. Estruturada a partir da obra O Alienista(1882), de Machado de Assis, a peça de Schwarz recorreu estrategicamente ao consagrado universo da literatura machadiana, para assim driblar os censores e estabelecer uma notável crítica política. A ditadura modernizante apresentada por Machado em Itaguaí, adequa-se enquanto paródia ao terror policial que o Brasil vivia durante o regime militar. 
  Hoje, em plena democracia burguesa, o modelo de literatura política de Scwarz ainda é pertinente. O clima de revolta política popular da peça não se configura enquanto ficção isolada, mas enquanto ficção participante em plena ebulição social de 2014. Estamos falando portanto de uma obra literária do final dos anos sessenta, que recorreu á literatura de Machado de Assis do século XIX e explode com grande atualidade enquanto reedição no século XXI.


                                                                              Lenito     
  

sábado, 17 de maio de 2014

Virada Cultural e Luta de Classes:

É sob um agitado palco social que ocorre a décima edição da Virada Cultural em São Paulo. Protestos, conflitos, quebradeira, miséria aumentando, falta de água e viciados da cracolândia em um cercadinho.Diante deste quadro, qual deveria ser a concepção de cultura ou pelo menos de vivência cultural? Não é um problema de qualidade artística, de modo que as apresentações incluídas na programação contam com vários artistas interessantíssimos. A questão mora no fato da Virada Cultural estar desconectada das demandas estéticas ligadas ás lutas sociais, que estão se espalhando pelo país.
 A questão da arte, inerente á esfera da cultura, não se separa do conteúdo de classe. Quando a luta de classes está se acirrando no país, acreditamos que as formas artísticas devem exprimir os conflitos sociais; ou seja, mais urgente do que uma série de atrações que varam  a madrugada(que apesar de"  gratuitas " envolvem o gasto de 13 milhões pela prefeitura), é pensar a cultura sob o ponto de vista da crise econômica. Pertinente aqui não é a Virada Cultural mas a resistência cultural enquanto aspecto da contestação política.


                                                                             Geraldo Vermelhão 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Música para os novos contestadores de rua:

Na última quinta feira(dia 15) em São Paulo, uma menina linda de cabelos cor de rosa teria dito ao tirar seus fones de ouvido:   " Pronto! Já ouvi um pouco de Clash, um pouco de Stones e uma pitada de Rages Against The Machine. Estou pronta para marchar contra a Copa do Mundo ". Sim, é a música uma força cultural que prepara os ânimos no protesto social do Brasil de hoje. Claro que dos 15 mil manifestantes poucos devem ter buscado alimento contestador na música. Pouco importa, pois se as multinacionais criam as musiquinhas que rimam com a Copa, quem está marchando pela rua necessita mesmo é de outras referências estéticas...
  Nada de sorrisinhos e dancinhas do otimismo de outrora.Não sendo apenas deleite mas um gozo ameaçador diante da luta de classes, a música ancorada na revolta social precisa ser cultivada. Trata-se de um fermento para a reivindicação dos nossos direitos. O som estridente fica melhor nas ruas do que no bolso do capitalista. Trabalhadores em greve, professores, militantes comunistas e anarquistas, vivem um momento em que a trilha sonora é feita de fúria e esperança. Preparar as canções do dia é tão importante quanto preparar os cartazes de protesto.


                                                                                        Tupinik

quinta-feira, 15 de maio de 2014

As greves exigem arte de agitação!

O país está praticamente em fogo alto! As greves que exprimem o descontentamento da classe trabalhadora brasileira, empurram para o amadurecimento da luta de classes. É portanto nesta conjuntura que precisamos de uma produção artística capaz de estabelecer a conexão simbólica com as categorias de trabalhadores em luta. 
 Se os capitalistas preferem arrancar o pão da boca dos trabalhadores ao invés de arrancarem os prejuízos do próprio bolso, então a riqueza dos exploradores deve ser denunciada através de imagens. Façamos demonstrações de que a arte capta as diferenças entre as classes sociais em tempos de crise. A arte denuncia a riqueza dos patrões e portanto dá nome ao odioso burguês.

                                                                                      José Ferroso

quarta-feira, 14 de maio de 2014

A ação teatral pode deslocar a ação do futebol:

No final do ano passado o nosso blog publicou um artigo meu em que eu endossava a tese do teatro de Estádio do Oswald de Andrade. No texto intitulado Como o Teatro Pode Alcançar o Futebol?, eu dizia que as qualidades políticas do teatro devem se impor perante a obsessão futebolística utilizada como narcótico simplificado. Ainda sustento esta ideia, e dando também continuidade ao que já disse antes, precisamos por hora pensar em estratégias cênicas que ao menos tentem desviar um pouco o olhar dos estádios para a rua.
  As dificuldades para financiar grandes espetáculos revelam que ainda estamos distantes do sonho de Oswald; ou seja distantes do teatro enquanto força revolucionária educadora das massas.  Porém, as performances e os happenings são estratégias que adequam-se á falta de grana e ao mesmo tempo cumprem uma função guerrilheira das mais importantes. Esta proposta se fortalece perante o quadro de inconformismo social, ilustrado com as greves que pipocam pelo país. Durante as greves os trabalhadores precisam de teatro revolucionário! Teatro que desmistifique a Copa do Mundo.
 Entre um ou outro comercial, entre um outro gol, pequenas ações cênicas espalhadas pelas metrópoles brasileiras, podem alimentar uma visão crítica perante a Copa do Mundo. É preciso que os atores mostrem aos trabalhadores que o centro das atenções não deve ser ocupado por chuteiras mas por esforços cênicos que destruam o falso sentimento de coletividade em torno da seleção brasileira. O teatro poderá mostrar nas próximas semanas que o futebol foi apropriado pela máquina capitalista. O teatro poderá mostrar que o palco de nossas vidas é muito maior que bola. O teatro poderá mostrar que apito deve ser usado para acordar o povo e não comandar partidas de futebol.

                                    
                                                                           Geraldo Vermelhão

terça-feira, 13 de maio de 2014

Somente uma Estética da Fome pode rebater o cinemão:

Enquanto qualquer outro ramo das atividades culturais, o cinema envolve uma opção de classe. Muitos cineastas mais interessados no filme enquanto mercadoria padronizada para as massas do que na realização de uma obra de arte capaz de educar/libertar os trabalhadores, se esquecem de que vivemos no Brasil. Um país em que estima-se pelo menos dezesseis milhões de faminto(isto chutando por baixo nos cálculos) deve exprimir exatamente o que em termos cinematográficos?Com toda certeza não são os filmes bonitinhos(verdadeiras expressões do pensamento colonizado por Hollywood) realizados atualmente no Brasil, as autenticas expressões do nosso povo nas telas.  
O cinema brasileiro, em sua diversidade estética e étnica, não pode fugir do desafio político de nomear pela imagem em movimento, o verdadeiro rosto do homem explorado pelo território nacional. Nada de realismo canalha que se parece com filme policial americano. Necessitamos de filmes violentamente poéticos, realistas, porém inventivos, capazes de devolver simbolicamente toda agressão diária que a classe trabalhadora sofre. Seria a nossa diversidade cultural incompatível com um cinema revolucionário? Abaixo o culturalismo reacionário! Diversidade cultural é arma na luta de classes e não antropologia despolitizada em forma de filminhos chochos. A nossa condição de povo explorado pelo imperialismo, seria  algo secundário nas telas brasileiras? Abaixo o economicismo com raizes liberais! Retomem a linha evolutiva do cinema brasileiro a partir de Glauber Rocha. Leiam, assistam e pratiquem uma Estética da Fome!

                                                                                         Lenito

segunda-feira, 12 de maio de 2014

A batalha estética de Mário Pedrosa ainda não terminou:

Quando artistas e teóricos acadêmicos em seu rarefeito ar de " especialistas sobre o nada ", não conseguem mais disfarçar sua missão reacionária, os necessários vínculos entre arte e revolução são mais uma vez evidenciados. É portanto nos nossos dias, que as reflexões de Mário Pedrosa adquirem um valor de combate renovado. Durante este ano a obra de Pedrosa está ocupando novamente um espaço inestimável nas livrarias: no final do mês passado o pessoal da editora Azougue lançou, dentro da Coleção Encontros, uma coletânea de entrevistas de Mário Pedrosa(livro este organizado por César Oiticica Filho). A editora Cosac Naify também irá reeditar uma série de textos de Pedrosa sobre diferentes temas que passam pela crítica de arte e pela teoria política. Ou seja, Pedrosa poderá suprir um grande vazio teórico na vida artística e política do Brasil.
 O crítico de arte brasileiro apresenta em sua trajetória, a fecunda conjugação entre arte de vanguarda e política revolucionária, mas com tamanho embalo libertário que acaba deixando sem jeito tanto burgueses quanto stalinistas. Quer dizer, arte para Pedrosa não é nem torre de marfim e nem um comichão politizante que torna a criação artística ilustração de cartilha ideológica. Mário Pedrosa concebia as experiências da arte moderna e contemporânea enquanto processos independentes que trabalham pela revolução política. É a dimensão estética, em suas particularidades, contribuindo para a emancipação social.
 Mário Pedrosa é um modelo de intelectual que não se separa do militante e que portanto não tem medo de assumir e defender posições. Sendo um dos pioneiros na criação da Oposição internacional de Esquerda no Brasil, isto é do trotskismo, Pedrosa uniu o internacionalismo revolucionário da política com a arte. Esta é uma formulação atual que nos obriga a refletir sobre o amplo legado do crítico: da sua conferência sobre a gravurista alemã Kaethe Kollwitz  no Clube dos Artistas Modernos em São Paulo no ano de 1933(marco da crítica de arte marxista), passando pela sua amizade com a rapaziada do movimento surrealista de Paris(Pedrosa foi amigo de André Breton), pela sua defesa corajosa da arte abstrata na imprensa brasileira, pela sua participação decisiva nas Bienais de Artes e na organização da moderna vida cultural, chegando á promoção das vanguardas concretistas e á valorização da contracultura(Hélio Oiticica, por exemplo, foi a um só tempo seu " aluno " e amigo).  A estes assuntos somam-se outras questões pertinentes levantadas pelo crítico, como por exemplo a situação da arte na sociedade de consumo.
  Com os conservadores usando as máscaras da picaretagem, as ideias de Mário Pedrosa chegam em boa hora. É preciso que os jovens artistas deste país saibam reler as ideias do crítico, para continuarmos assim a batalha estética que está longe de terminar: a arte, enquanto " exercício experimental de liberdade ", é uma aliada vital do socialismo.


                                                                                  Afonso Machado  
   

O Teatro brasileiro de hoje deve ser popular para tornar-se revolucionário:

Na França do século XVIII, as trupes teatrais sofriam com a censura do Antigo Regime. Mas com a Revolução batendo na porta da História, o próprio teatro tornava-se ousado, inventivo e...popular. No Brasil de hoje, ainda que não tenha (aparentemente) revolução no ar, mas sim protestos sociais a caminho, o teatro deve se popularizar para tornar-se inventivo.
  As fontes de comunicação popular são vitais para o alcance político do teatro. A História ensina: na França de 1789 os atores incorporavam ao seu repertório de contestação social,  a fala dos vendedores de peixe. Na Rússia revolucionária de 1917, Meyerhold prestava atenção nas feiras, no circo, no teatro de variedades...  Portanto para os atores que não querem ficar brincando de serem outras pessoas, é preciso incorporar a linguagem popular de hoje e estabelecer um teatro de enfrentamento. Enquanto a bola rola de forma boçal pelos campos verdes de fome e amarelo de doença, um teatro sadio e contestador terá grandes chances de se efetivar. Ele será uma ferramenta insubstituível na luta de classes.


                                                                                        Os Independentes    

sábado, 10 de maio de 2014

Literatura por inteiro!

Perante os burocratas soviéticos, que exigiam uma arte simplificada, Maiakóvski disse : " É preciso que vocês elevem o nível das massas ". A afirmação do poeta soviético é válida, ainda mais no Brasil de hoje: o mundo das letras foi tomado por um grande debate em torno do projeto da escritora Patrícia Secco, que pretende reescrever clássicos da literatura brasileira como os romances O Alienista,de Machado de Assis, e A Pata da Gazela, de José de Alencar. A autora visa " simplificar " estas obras, de acordo com uma linguagem " mais acessível ". Este projeto que conta com um milhão de reais de captação, autorizada pelo Ministério da Cultura, é um verdadeiro escândalo. Como prestigiar a  literatura brasileira, mutilando obras? Difundir literatura implica em respeitar os procedimentos de linguagem intrínsecos ás obras. O respeito ao público, inseparável do respeito á dimensão estética em que uma determinada obra é gerada, é o ponto de partida para se buscar a formação de leitores. 
  Este acontecimento que contará com a tiragem de 600 mil exemplares, a serem distribuídos, ilustra um tipo de política cultural que separa cada vez mais a literatura das massas. Em nossa opinião, é preciso seguir o conselho de Maiakóvski e não simplificar obras de arte. Os leitores brasileiros, e em especial os da classe operária, merecem ter acesso á forma e ao conteúdo de obras literárias. Elas foram escritas por inteiro e devem ser lidas por inteiro. Que seja estimulada a leitura, respeitando o público que não precisa se submeter ás papinhas literárias.

                                                                                           Lúcia Gravas

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Orientação para o atual Front das Artes:

 É visível, dentro da cultura vigente, que as lorotas do nacionalismo não tapeiam mais os trabalhadores. Está mais do que claro que pintar a superestrutura de verde e amarelo, é um inútil gesto reacionário quando a crise econômica arrasta o país para o inconformismo político. A oposição artística a todo aparato midiático promotor da Copa do Mundo, precisa se intensificar nas próximas semanas. A exemplo do que rolou nas jornadas de junho do ano passado, o florescer de uma simbologia revolucionária que contempla diferentes vertentes culturais(pop, construtivismo russo, punk, surrealismo, etc) precisa agir imediatamente sobre a sensibilidade do proletariado brasileiro. Sim, esta é uma tarefa árdua, até porque sabemos que a canalha anda solta por aí: cretinos pós-modernos adoram vociferar com letras de almofada e tatuagens acadêmicas, que não existiria mais " a unidade política em torno do proletariado ". É verdade que a fragmentação do espaço social do trabalho dificulta, e muito, a solidificação dos laços de solidariedade, e por tabela, o estabelecimento de experiências culturais orientadas para o socialismo.Porém, isto não nega a existência do proletariado(e por conseguinte a sua posição histórica para derrubar a classe dominante), sendo que o grilo mora mesmo é na estratégia correta para executarmos a agitação de caráter anticapitalista.
 No caso das iniciativas artísticas  propriamente ditas, pesa um duplo aspecto: 1- atividades de instrução, esclarecimento, ou seja de educação política. 2- Ações que atacam as raízes psíquicas do sistema em nós, o que requer uma arte violenta, de natureza iconoclasta. Esta dialética( verificada nas reflexões de artistas e pensadores como Glauber Rocha), entre atividades que enfocam ora o aspecto educativo, ora a explosão anárquica, precisam operar-se conflituosamente  dentro da esquerda. Um front das artes deve ser imediatamente reivindicado por comunistas e anarquistas em seus respectivos setores de atuação.
 O tempo dos acadêmicos descolados já passou. A luta de classes quebrou o nariz empinado do intelectual pequeno burguês. Perante o acúmulo de erros políticos da esquerda majoritária e os riscos iminentes de uma direita golpista, a orientação para os artistas revolucionários passa pela desconstrução dos mitos nacionalistas e a construção de vivências culturais identificadas com o socialismo.


                                                                      Afonso Machado
 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O canto de Jair fica:

É de coração quebrado que atravessamos o dia de hoje: a notícia da morte de Jair Rodrigues nos pegou de surpresa. Sua voz arrebatadora, símbolo de toda inquietude, talento, criatividade e irreverência da música popular brasileira dos anos sessenta, deverá ressoar por todo este século. A música de Jair, moderna e de grande capacidade para se comunicar com o povo, é de  valor incalculável para a nossa cultura.
 Jair Rodrigues foi dono de um canto corajoso; canto este que chacoalhou o país nos tempos dos festivais da canção. Seu talento lhe permitiu atuar junto com outros talentos de sua geração, como comprova sua parceria com Elis Regina. O seu canto destemido nos faz ter orgulho do samba. Sua voz será uma eterna disparada de emoções em nossas vidas.

                                                                             Conselho Editorial Lanterna 

Não importa o suporte, o que importa é o cinema de autor:

Hoje fala-se em vídeo pra cá, vídeo pra lá, mas raramente constata-se o essencial: a linguagem cinematográfica é o que fica, sendo o vídeo suporte que agiliza esta mesma linguagem. Não dá pra acreditar como muitos ainda não sacaram que com as novas tecnologias digitais, a produção audiovisual, que tem praticamente todos os seus antecedentes na História do cinema, dispensa o cinemão e exige um cinema realizado pelos trabalhadores.
  A visão colonizada de um cinema que existe em função das bilheterias, das grandes produções que movem milhões enquanto boa parte do planeta passa fome, ainda paira na cuca de cineastas vaidosos e do público sem referências para um cinema que comunique o real funcionamento da sociedade burguesa. Se nossa publicação insiste nesta tecla é porque julgamos o cinema uma expressão tremendamente avançada, que deve ser posta a serviço dos trabalhadores deste país. A realidade técnica é dada. O que falta é um trabalho de educação cinematográfica capaz de fazer o trabalhador entender que a câmera é um instrumento a ser utilizado por ele contra a ideologia dominante. Um pensamento cinematográfico de tipo revolucionário pedirá passagem nos próximos tempos.


                                                                                    Os Independentes

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Rock e proletariado:

Música não é disco voador: ás vezes militantes de esquerda, bem intencionados, desejam levar formas artísticas libertárias para comunidades que não possuem ligações concretas com aquilo. Falando de música, especialmente, é preciso compreender e valorizar as manifestações musicais que nascem dentro dos bairros populares: foi assim com o samba, é assim com o funk. Porém, música também é uma questão de hábito, que articula-se com sentimentos específicos. Tratando-se do rock, ele é capaz de fazer a garotada operária acionar suas qualidades de rebeldia, numa intensidade muito maior do que a dos bem cheirosos da classe média(a vinculação entre rock e plebe já deu inúmeras demonstrações disso com o punk-rock). Quer dizer, a realidade concreta que flagra a exploração econômica e a repressão sexual, é compatível com a eletricidade rocker. Isto é uma coisa que ainda não possui data de validade: o recente documentário Jimi Hendrix: hear my train a comin` , do diretor Bob Smeaton, rodado no ano passado e exibido agora no Brasil, comprova que a guitarra, tal como foi utilizada por Hendrix, ainda é uma arma de oposição política. Aliás, Jimi Hendrix cala qualquer um que ouse separar curtição de protesto social. Além deste citado documentário, não faltam outros exemplos recentes que falam de rockeiros mortos há um tempão, mas que ainda causam impacto na cultura dominante justamente por emitirem um duradouro grito rebelado. 
 Creio que o rock  que realmente expressa a recusa contra a cultura dominante, deva ser estimulado entre os jovens trabalhadores, em convenções de esquerda. Entretanto, existem desafios: a hostilidade/desconfiança contra aquilo que " não é da comunidade ", barreiras psíquicas de origem religiosa(algumas religiões tapam os ouvidos dos jovens perante os gêneros musicais do mundo laico) e a ausência de um debate musical a ser feito por  grupos que professam alguma ideologia anticapitalista. Este último caso implica em ajustes históricos: dentre os estragos cometidos pelos stalinistas no século passado, está a dissociação entre a rebelião juvenil do rock com as aspirações políticas revolucionárias da classe operária. Não se trata mais de opor " sambão ao rock `n ` roll " , mas sim em saber valorizar (e portanto difundir )tudo aquilo que leva á contestação política.

                                                                                         Tupinik 

terça-feira, 6 de maio de 2014

Pelo fortalecimento da Literatura de Esquerda:

Os escritores proletários e os escritores de classe média que optam pelo proletariado, precisam combater pelo verbo concreto as palavras reacionárias que ecoam numa tagarelice sem tamanho. A criação de associações, selos, publicações eletrônicas, são iniciativas válidas. Curti pacas um artigo recente da nossa companheira Lucinha, que insistiu na questão do texto literário enquanto mobilizador da sensibilidade dos trabalhadores. Como ela mesma diz, isto é tão importante quanto uma campanha salarial. Afinal de contas, se estamos interessados em contribuir com a educação política dos trabalhadores, a literatura produzida por militantes deve circular pelos veículos dos partidos de esquerda: é a agitação literária, com textos ágeis, poéticos e precisos, que ocupam um espaço cultural importantíssimo na vida dos trabalhadores(espaço este quase em branco, que a esquerda deixa passar, fazendo com que o inimigo ganhe terreno com sua ideologia reacionária através de meios de comunicação de massa, por exemplo).
A ação direta sobre o papel é um passo importante. Não desperdicem energia com modelos importados. Olhem para a literatura de cordel, que ainda se comunica de forma vigorosa com as populações do nordeste. Trocando em miúdos: escreva, edite , faça a arte e venda/distribua! Seria este um procedimento tão artesanal que destoa da realidade digital? Se o impresso e o digital ajudam na disseminação da literatura que realmente expressa os problemas sociais e o ódio contra a classe dominante , então eles cumprem a mesma função revolucionária. A esquerda brasileira do século XXI deve ajudar na consolidação de uma nova literatura proletária.


                                                                                                    Lenito
 

Lygia Clark abala NY:

Os gringos estão perplexos com a arte contemporânea brasileira. Lygia Clark, artista que subverteu os limites institucionais da arte gerando experiências liberadoras da expressão(e dos sentidos), está com uma retrospectiva no MOMA, em Nova York. É ótimo que eles conheçam a obra de Lygia, mas esperamos que seja evidenciado que o trabalho dela ultrapassa qualquer espécie de convenção: é um trabalho de desconstrução de alicerces estéticos definidos. Em Lygia Clark a expressão artística envolve uma redescoberta do corpo e dos objetos do mundo, numa vivência libertária(e isto ultrapassa qualquer instituição para se tornar uma coisa incontrolavelmente poética).
  Lygia é maior do que qualquer museu, que qualquer espaço oficial. Da sua pintura tridimensional chegando até objetos que interferem na percepção através do aspecto tátil e criativo(Os Bichos, de 1963, por exemplo) e finalmente á grandes experiências corpóreas como A Casa é o Corpo (1968) e Baba Antropofágica(1970),a artista questionou o que é arte(chegando inclusive até á medula da expressão). Ao mesmo tempo que a sua obra é cada vez mais conhecida, cada vez mais internacionalizada, não vamos perder de antemão a força libertadora/participativa que a sua expressão exige.


                                                                                      Marta Dinamite 

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Boal é necessário:

Não faz muito tempo que o companheiro Augusto Boal nos deixou. O tempo pode passar mas o teatro de Boal é uma das coisas mais urgentes e atuais neste país saqueado pelo imperialismo(a necessidade deste teatro não vai passar tão cedo). Enquanto houver sistema capitalista, haverá oprimidos e portanto a possibilidade de um teatro eminentemente perigoso para a classe dominante: falo naturalmente de um teatro político autenticamente brasileiro. Entre o período de bravura do Arena nos anos sessenta  e a tese do Teatro do Oprimido, existe uma vitalidade expressiva que encontra nos trabalhadores, nas camadas populares, os verdadeiros temas a serem abordados nos palcos brasileiros. 
  A overdose midiática em torno da Copa do mundo, reserva uma imagem do povo brasileiro que não corresponde á  realidade econômica e social: uma grande quantidade de cimento verde e amarelo tenta tapar em vão a crise na economia, na política e na cultura. A denúncia desta mesma realidade, exercida em sua vitalidade poética e política encontra-se no teatro de Boal, verdadeira fonte por onde nos abastecemos esteticamente, possuídos por um ímpeto cênico que fornece elementos críticos para sentirmos/entendermos a sociedade do nosso tempo. 
 Perante Boal não é para ficarmos simplesmente nostálgicos. É preciso tomar este legado para que o teatro brasileiro tenha o seu lugar certo: um esforço vivo para conscientizar o povo.


                                                                                   Geraldo Vermelhão   

Pintura revolucionária contra o racismo do colonizador:

As recentes demonstrações de racismo contra jogadores em partidas de futebol ocorridas na Espanha, ofendem a todos nós. É um verdadeiro ataque com resquícios de colonização, verdadeiro bueiro por onde os povos europeus exploraram as nossas riquezas. Acredito que a melhor maneira de devolver estas ofensas, é esfregando na cara dos racistas as imagens autenticas do povo brasileiro. A celebração dos nossos traços, fruto da miscigenação, e dos braços de quem carrega o trabalho no campo e na cidade, é o que deve constar na pintura brasileira. Observem a pintura de artistas como Portinari, que revelaram de maneira moderna o rosto do homem brasileiro. É o orgulho revolucionário de sermos trabalhadores misturados(com muita honra!) com índios, africanos, europeus, asiáticos e outros povos. 
 Se a violência racista ocorre em campos de futebol, vamos rebate-la inclusive através da arte, da criação de imagens que não querem ter nenhuma semelhança com os colonizadores de ontem e os imperialistas de hoje.Que os artistas brasileiros se preocupem menos com performances e formas geométricas, e busquem o verdadeiro rosto do nosso povo.


                                                                                   José Ferroso

Do poema " Liberdade ", de Paul Éluard:

(...) Nos refúgios destruídos 
Nos faróis desmornados 
Nas paredes de meu tédio
Escrevo teu nome

Nas ausências sem desejo
Na solidão toda nua 
Nesta marcha para a morte
Escrevo teu nome

Na saúde que retona
No que perigo que passou
Nas esperanças sem eco
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Reconheço a minha vida
Nasci para conhecer-te
E chamar-te

Liberdade


                                            Paul Éluard 

domingo, 4 de maio de 2014

Em Breve: " O que é Cinema Político? ". Ciclo de filmes

Perante a proliferação de novas mídias, que interferem diretamente sobre a produção audiovisual, realizaremos em breve um novo ciclo de filmes. Militantes e cinéfilos de esquerda estarão empenhados em responder o que é cinema político. Aguardem.


                                                                             Conselho Editorial Lanterna

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Macunaíma: a síntese entre o cinema político e a chanchada onírica

É com certo ar de perplexidade que exibiremos neste próximo sábado o filme Macunaíma(1969), de Joaquim Pedro de Andrade. Tal perplexidade se dá pelo fato deste longa, extraordinariamente ousado e muito bem feito, ter sido sucesso de público. Olhando para os atuais sucessos do cinema brasileiro, cada vez mais reduzidos á mediocridade comercial que se entrega ás forminhas hollywoodianas e folhetinescas, fica difícil imaginar o feito de Joaquim Pedro com Macunaíma. O cineasta que fora um exemplo de militância no movimento do Cinema Novo, conseguiu adaptar um dos grandes clássicos da nossa literatura modernista, atualiza-lo para a realidade cultural do final dos anos sessenta e dialogar com o grande público; isto sem contar que havia obstáculos, quer dizer, todo o clima barra pesada da censura e da ditadura militar escancarando o seu açougue político.
 Adaptar a rapsódia do escritor Mário de Andrade, publicada em 1928, para o cinema em 1969, não foi um gesto desconectado da vanguarda intelectual brasileira naquele momento. O livro de Mário foi expressão do movimento antropofágico do final dos anos vinte: pelas páginas do livro encontramos a magia, os mitos do fundo do mato, o delicioso primitivismo e o universo devorador urbano; ou seja, tudo confluindo numa louca síntese de fundo canibal. Era exatamente esta mesma proposta que os debates estéticos do final dos anos sessenta estavam vivenciando com o tropicalismo. Embora a ditadura já tivesse quebrando as pernas do movimento em fins de 1968(Gil e Caetano, por exemplo,  em cana e logo em seguida expulsos do país), a antropofagia praticada pelo cinema brasileiro encontrou em Macunaíma um bastião muito doido. No caso do Cinema Novo em particular, era um momento em que o tom de seriedade do preto e branco foi substituído pelo desbunde em cores. Esta tentativa de dialogar com o grande público através das cores é de extrema importância histórica: vanguardismo e linguagem pop, fundidos. Mas apesar de todo o colorido, o filme não deixava de ser protesto, de ser crítica social.
 Nesta que é a penúltima sessão dentro do nosso ciclo Revisão Crítica do Cinema Novo, convidamos a todos para assistirem as aventuras de Macunaíma, herói popular-psicodélico sem caráter e magistralmente vivido por Grande Otelo e Paulo José. Venham ver o gigante-burguês comedor de gente, lendas das florestas, tapeações urbanas, malandragens folclóricas; tudo em um grande cenário pop-politizado ao som da música de Roberto Carlos e dos pipocos da guerrilha urbana. Uma chanchada onírica que amplia as fronteiras do cinema político nacional.


                                                                              Marta Dinamite

FILME: Macunaíma

DIREÇÃO: Joaquim Pedro de Andrade

ANO: 1969

DIA: 3/05

HORÁRIO: 19:30

LOCAL: Museu da Imagem e do Som de Campinas

Música e sindicalismo:

Reparando nos shows realizados pelo país neste último primeiro de maio, fico pensando na ausência de um esforço maior para se praticar e promover música de protesto. Longe de mim desqualificar os músicos que se apresentaram: as canções de sucesso, populares e portanto presentes no cotidiano dos trabalhadores, são fatos culturais(não tenho a menor intenção de enquadra-las na categoria de " reacionárias "). Mas mesmo que não se estabeleça artificialmente regras para o gosto musical do proletariado, meu questionamento permanece: por que diabos os sindicatos não priorizam uma produção musical que contribua para a consciência de classe ou ao menos para uma visão crítica perante a cultura dominante? .    
   Não sendo este um mero problema de gênero musical mas sim de ênfase sobre as qualidades ideológicas revolucionárias na música popular, creio que as correntes sindicais(refiro-me obviamente aquelas que concebem o sindicato enquanto espaço de educação política das categorias, voltadas para o combate ao capital e promotoras das ideias socialistas) não podem deixar de lado a questão cultural. Se o sindicato pode mobilizar para a greve, como é possível que o espaço de convivência cultural dos trabalhadores não possua atividades que fortaleçam a ideologia revolucionária? No caso da música, não precisa de muitas aparelhagem não. A exemplo do que já se fazia nos anos trinta, basta o sindicato descolar um caminhão e um microfone para que um violeiro dos bons suba na carroceria e cante sobre o ponto de vista revolucionário da classe operária.


                                                                                             Tupinik

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Primeiro de Maio exige uma reflexão estética:

Saudamos todos os trabalhadores neste Primeiro de Maio. É um momento propício para que  façamos uma reflexão sobre a nossa luta, nosso esforço de sobrevivência num mundo escravizado pelo capital. Mas para além de uma reflexão que leva em conta tão somente o dado econômico, devemos pensar também os rumos revolucionários dentro da cultura: é neste campo que a arte pode fornecer elementos simbólicos que nos fortalecem ideologicamente na luta política.
  O debate estético é no Brasil de hoje parte fundamental do debate político. Estejamos atentos ás novas manifestações artísticas periféricas, que expressam de fato o abismo entre a cultura oficial brasileira(representada no poder do Estado, das academias e da mídia burguesa) e a situação concreta da classe trabalhadora. Valorizemos tudo aquilo que em matéria de pintura contribui para o estabelecimento de laços fraternos entre o proletariado. Exaltemos a literatura que exprime o ódio contra a classe dominante. Estimulemos o teatro, o audiovisual e a música popular no que elas podem oferecer de mais libertário, de mais contestador. Por fim, que a esquerda saiba situar ainda mais a arte enquanto aliada no combate ao capital.  
 Este periódico é um pequeno front cultural a serviço dos interesses históricos dos trabalhadores.


                                                                           Conselho Editorial Lanterna