sexta-feira, 2 de maio de 2014

Macunaíma: a síntese entre o cinema político e a chanchada onírica

É com certo ar de perplexidade que exibiremos neste próximo sábado o filme Macunaíma(1969), de Joaquim Pedro de Andrade. Tal perplexidade se dá pelo fato deste longa, extraordinariamente ousado e muito bem feito, ter sido sucesso de público. Olhando para os atuais sucessos do cinema brasileiro, cada vez mais reduzidos á mediocridade comercial que se entrega ás forminhas hollywoodianas e folhetinescas, fica difícil imaginar o feito de Joaquim Pedro com Macunaíma. O cineasta que fora um exemplo de militância no movimento do Cinema Novo, conseguiu adaptar um dos grandes clássicos da nossa literatura modernista, atualiza-lo para a realidade cultural do final dos anos sessenta e dialogar com o grande público; isto sem contar que havia obstáculos, quer dizer, todo o clima barra pesada da censura e da ditadura militar escancarando o seu açougue político.
 Adaptar a rapsódia do escritor Mário de Andrade, publicada em 1928, para o cinema em 1969, não foi um gesto desconectado da vanguarda intelectual brasileira naquele momento. O livro de Mário foi expressão do movimento antropofágico do final dos anos vinte: pelas páginas do livro encontramos a magia, os mitos do fundo do mato, o delicioso primitivismo e o universo devorador urbano; ou seja, tudo confluindo numa louca síntese de fundo canibal. Era exatamente esta mesma proposta que os debates estéticos do final dos anos sessenta estavam vivenciando com o tropicalismo. Embora a ditadura já tivesse quebrando as pernas do movimento em fins de 1968(Gil e Caetano, por exemplo,  em cana e logo em seguida expulsos do país), a antropofagia praticada pelo cinema brasileiro encontrou em Macunaíma um bastião muito doido. No caso do Cinema Novo em particular, era um momento em que o tom de seriedade do preto e branco foi substituído pelo desbunde em cores. Esta tentativa de dialogar com o grande público através das cores é de extrema importância histórica: vanguardismo e linguagem pop, fundidos. Mas apesar de todo o colorido, o filme não deixava de ser protesto, de ser crítica social.
 Nesta que é a penúltima sessão dentro do nosso ciclo Revisão Crítica do Cinema Novo, convidamos a todos para assistirem as aventuras de Macunaíma, herói popular-psicodélico sem caráter e magistralmente vivido por Grande Otelo e Paulo José. Venham ver o gigante-burguês comedor de gente, lendas das florestas, tapeações urbanas, malandragens folclóricas; tudo em um grande cenário pop-politizado ao som da música de Roberto Carlos e dos pipocos da guerrilha urbana. Uma chanchada onírica que amplia as fronteiras do cinema político nacional.


                                                                              Marta Dinamite

FILME: Macunaíma

DIREÇÃO: Joaquim Pedro de Andrade

ANO: 1969

DIA: 3/05

HORÁRIO: 19:30

LOCAL: Museu da Imagem e do Som de Campinas

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