Quando artistas e teóricos acadêmicos em seu rarefeito ar de " especialistas sobre o nada ", não conseguem mais disfarçar sua missão reacionária, os necessários vínculos entre arte e revolução são mais uma vez evidenciados. É portanto nos nossos dias, que as reflexões de Mário Pedrosa adquirem um valor de combate renovado. Durante este ano a obra de Pedrosa está ocupando novamente um espaço inestimável nas livrarias: no final do mês passado o pessoal da editora Azougue lançou, dentro da Coleção Encontros, uma coletânea de entrevistas de Mário Pedrosa(livro este organizado por César Oiticica Filho). A editora Cosac Naify também irá reeditar uma série de textos de Pedrosa sobre diferentes temas que passam pela crítica de arte e pela teoria política. Ou seja, Pedrosa poderá suprir um grande vazio teórico na vida artística e política do Brasil.
O crítico de arte brasileiro apresenta em sua trajetória, a fecunda conjugação entre arte de vanguarda e política revolucionária, mas com tamanho embalo libertário que acaba deixando sem jeito tanto burgueses quanto stalinistas. Quer dizer, arte para Pedrosa não é nem torre de marfim e nem um comichão politizante que torna a criação artística ilustração de cartilha ideológica. Mário Pedrosa concebia as experiências da arte moderna e contemporânea enquanto processos independentes que trabalham pela revolução política. É a dimensão estética, em suas particularidades, contribuindo para a emancipação social.
Mário Pedrosa é um modelo de intelectual que não se separa do militante e que portanto não tem medo de assumir e defender posições. Sendo um dos pioneiros na criação da Oposição internacional de Esquerda no Brasil, isto é do trotskismo, Pedrosa uniu o internacionalismo revolucionário da política com a arte. Esta é uma formulação atual que nos obriga a refletir sobre o amplo legado do crítico: da sua conferência sobre a gravurista alemã Kaethe Kollwitz no Clube dos Artistas Modernos em São Paulo no ano de 1933(marco da crítica de arte marxista), passando pela sua amizade com a rapaziada do movimento surrealista de Paris(Pedrosa foi amigo de André Breton), pela sua defesa corajosa da arte abstrata na imprensa brasileira, pela sua participação decisiva nas Bienais de Artes e na organização da moderna vida cultural, chegando á promoção das vanguardas concretistas e á valorização da contracultura(Hélio Oiticica, por exemplo, foi a um só tempo seu " aluno " e amigo). A estes assuntos somam-se outras questões pertinentes levantadas pelo crítico, como por exemplo a situação da arte na sociedade de consumo.
Com os conservadores usando as máscaras da picaretagem, as ideias de Mário Pedrosa chegam em boa hora. É preciso que os jovens artistas deste país saibam reler as ideias do crítico, para continuarmos assim a batalha estética que está longe de terminar: a arte, enquanto " exercício experimental de liberdade ", é uma aliada vital do socialismo.
Afonso Machado
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