Música não é disco voador: ás vezes militantes de esquerda, bem intencionados, desejam levar formas artísticas libertárias para comunidades que não possuem ligações concretas com aquilo. Falando de música, especialmente, é preciso compreender e valorizar as manifestações musicais que nascem dentro dos bairros populares: foi assim com o samba, é assim com o funk. Porém, música também é uma questão de hábito, que articula-se com sentimentos específicos. Tratando-se do rock, ele é capaz de fazer a garotada operária acionar suas qualidades de rebeldia, numa intensidade muito maior do que a dos bem cheirosos da classe média(a vinculação entre rock e plebe já deu inúmeras demonstrações disso com o punk-rock). Quer dizer, a realidade concreta que flagra a exploração econômica e a repressão sexual, é compatível com a eletricidade rocker. Isto é uma coisa que ainda não possui data de validade: o recente documentário Jimi Hendrix: hear my train a comin` , do diretor Bob Smeaton, rodado no ano passado e exibido agora no Brasil, comprova que a guitarra, tal como foi utilizada por Hendrix, ainda é uma arma de oposição política. Aliás, Jimi Hendrix cala qualquer um que ouse separar curtição de protesto social. Além deste citado documentário, não faltam outros exemplos recentes que falam de rockeiros mortos há um tempão, mas que ainda causam impacto na cultura dominante justamente por emitirem um duradouro grito rebelado.
Creio que o rock que realmente expressa a recusa contra a cultura dominante, deva ser estimulado entre os jovens trabalhadores, em convenções de esquerda. Entretanto, existem desafios: a hostilidade/desconfiança contra aquilo que " não é da comunidade ", barreiras psíquicas de origem religiosa(algumas religiões tapam os ouvidos dos jovens perante os gêneros musicais do mundo laico) e a ausência de um debate musical a ser feito por grupos que professam alguma ideologia anticapitalista. Este último caso implica em ajustes históricos: dentre os estragos cometidos pelos stalinistas no século passado, está a dissociação entre a rebelião juvenil do rock com as aspirações políticas revolucionárias da classe operária. Não se trata mais de opor " sambão ao rock `n ` roll " , mas sim em saber valorizar (e portanto difundir )tudo aquilo que leva á contestação política.
Tupinik
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