Perante os burocratas soviéticos, que exigiam uma arte simplificada, Maiakóvski disse : " É preciso que vocês elevem o nível das massas ". A afirmação do poeta soviético é válida, ainda mais no Brasil de hoje: o mundo das letras foi tomado por um grande debate em torno do projeto da escritora Patrícia Secco, que pretende reescrever clássicos da literatura brasileira como os romances O Alienista,de Machado de Assis, e A Pata da Gazela, de José de Alencar. A autora visa " simplificar " estas obras, de acordo com uma linguagem " mais acessível ". Este projeto que conta com um milhão de reais de captação, autorizada pelo Ministério da Cultura, é um verdadeiro escândalo. Como prestigiar a literatura brasileira, mutilando obras? Difundir literatura implica em respeitar os procedimentos de linguagem intrínsecos ás obras. O respeito ao público, inseparável do respeito á dimensão estética em que uma determinada obra é gerada, é o ponto de partida para se buscar a formação de leitores.
Este acontecimento que contará com a tiragem de 600 mil exemplares, a serem distribuídos, ilustra um tipo de política cultural que separa cada vez mais a literatura das massas. Em nossa opinião, é preciso seguir o conselho de Maiakóvski e não simplificar obras de arte. Os leitores brasileiros, e em especial os da classe operária, merecem ter acesso á forma e ao conteúdo de obras literárias. Elas foram escritas por inteiro e devem ser lidas por inteiro. Que seja estimulada a leitura, respeitando o público que não precisa se submeter ás papinhas literárias.
Lúcia Gravas
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