Diante das imagens impositivas que o sistema nos enfia goela abaixo, muitos se esquecem de que o cinema pode ser outra coisa. Ser instrumento de poesia e rito de reflexão política são qualidades da sétima arte, num sentido que pode ser mais desafiador do que se possa supor. Se o capitalismo domestica nosso aparelho perceptivo, sobretudo através do apelo audiovisual, o contraponto disto é a estética que rompe os pressupostos gramaticais destas imagens cadeados: o filme pode ser a reivindicação de uma sociedade que ainda não existe.
Diferentemente de olhar pelo buraco da fechadura para espiar covardemente o que desejamos, o cinema revolucionário precisa sonhar com o fim de todos os pecados fictícios. É este cinema que também olha criticamente a condição humana em suas determinações históricas, negando o apaziguamento das contradições sociais; ou seja, um cinema potencialmente libertador é aquele que não oculta mas revela os mecanismos concretos da vida humana. Mas por hora sãos poucos os espíritos livres que assumem este tipo de responsabilidade política sobre o ato de fazer cinema. Acho tragicômico estas pessoas aficionadas pela mesmice dos macetes hollywoodianos e pela pobre linguagem da TV refém do imperialismo norte americano. Como é possível que exista tanta gente que enfeita e pole com carinho suas próprias correntes? Perante esta meleca cultural o jeito é insistir e produzir um cinema que acredita no homem: filmes que falem de seres humanos que não aceitam as formas modernas de escravidão da sociedade burguesa.
Marta Dinamite
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