De 1951 pra cá, a Bienal de Artes de São Paulo é a grande porta de entrada para compreendermos as principais mutações estéticas e as principais inquietações na arte contemporânea. Estamos ás vésperas da trigésima primeira edição da Bienal, cujo título é Como Falar de Coisas que não existem. O evento que irá ocorrer entre 6 de setembro e 7 de dezembro, será uma grande oportunidade para obtermos um panorama sobre a produção artística dos nossos dias. De nossa parte, continuaremos a insistir no fato de que a arte é uma dimensão fundamental da luta política para a emancipação humana. Minhas expectativas se concentram no fato de poder encontrar este caráter transformador pelo menos em parte das instalações, pinturas, fotos e esculturas do evento.
O tema da Bienal 2014 pode atrair sob o ponto de vista filosófico: criar sobre o que ainda não existe; fazendo crer que aquilo que " ainda não é " pode ser criado. Esta reflexão é fecunda, mas creio que é preciso sobretudo criar sobre o que existe, e neste sentido refiro-me a um mundo feito de miséria econômica e de alienação. Parece-me que o essencial na arte do nosso tempo não deve ser a fragmentação passiva que aguarda novos paradigmas. Os paradigmas já existem e devemos assim agir sobre a realidade. Portanto, a tão referida pós-modernidade não passa de uma radicalização da modernidade, pois os problemas essenciais que esta última levanta não só não foram resolvidos como estão presentes sob uma nova roupagem histórica. Com toda certeza, estes problemas concretos da realidade social devem ser percebidos pelos artistas mais sensíveis que irão expor na Bienal. Este é o caso do artista indiano Prabhakar Pachpute: nome evidente nesta edição do evento(o cartaz da Bienal 2014 possui a sua assinatura), sua obra aborda as condições de vida dos operários que trabalham no subterrâneo das minas. Comprometido com os problemas dos trabalhadores, Pachpute é sem dúvida o modelo de artista que pode contribuir efetivamente com a arte contemporânea.
Lenito
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