O anseio de separar as relações progressistas entre cultura e política, resume em boa parte os esforços da direita no âmbito da política cultural. Historicamente, não faz tanto tempo que a burguesia brasileira contava com o Serviço Nacional de Informações da ditadura militar, para fichar e perseguir artistas contestadores. Uma boa prova disso surgiu no último sábado com a divulgação, pela Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, de relatórios da ditadura sobre o cineasta militante Glauber Rocha(os documentos datam de 1971). Como todos sabemos, Glauber e vários outros artistas e intelectuais de sua geração lutavam contra o regime militar e consequentemente contra os valores, os privilégios e os interesses da burguesia. Isto tudo custou prisão, tortura, exílio e outros problemas. Mas se há quarenta e poucos anos atrás a classe dominante controlava a cultura através da repressão militar, hoje ela joga com armas que visam desmobilizar a produção cultural ligada ao ambiente da esquerda.
Enquanto que a mídia concebe o trabalho artístico enquanto terreno recreativo e não enquanto atividade que age politicamente sobre a realidade do país, uma educação reacionária colhe os frutos do artista que muitas vezes tem medo(ou simplesmente falta de interesse) em assumir uma posição política claramente anticapitalista. No atual cenário político a esquerda de um modo geral, vem perdendo espaços diante dos avanços da direita. Se esta última tenta apropriar-se de muitos esforços realizados por militantes de esquerda(a tentativa de canalizar as jornadas de junho do ano passado, por exemplo), então uma produção cultural centralizada precisa se impor antes que as coisas piorem ainda mais. Perante as soluções estéticas de manipulação política que devem surgir com tudo a partir de amanhã com o Horário Eleitoral, é dever promover o debate estético e opor-se artisticamente/politicamente.
Lúcia Gravas
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