A mostra de filmes do cineasta chinês Jia Zhangke, 44, no Cine Belas Artes, em São Paulo, é uma grande oportunidade para observarmos o cinema chinês dos nossos dias. A obra do diretor, a exemplo dos trabalhos literários e plásticos de vários artistas chineses de sua geração, revelam a grande diversidade de olhares e a enorme distância em relação aos parâmetros estéticos da China maoista. Se entre a Revolução de 1949 e a Revolução cultural das décadas de sessenta e setenta, o realismo socialista impregnou na arte daquele país, expondo todas as patetices estéticas do culto á personalidade de Mao Tsé Tung (além de imagens terrivelmente convencionais), atualmente uma crescente liberdade expressiva coexiste com a censura do governo. Porém, este sopro de criatividade serve hoje aos interesses do mercado ou possuem relações com o projeto socialista?
A História da Revolução chinesa por mais significativa que possa ser do ponto de vista do avanço político da classe trabalhadora, não deixa de legar uma série de erros. Problemas estruturais enquanto heranças que passam pela guerra civil e pelo imperialismo japonês, fizeram Mao construir uma China com base no autoritarismo de uma burocracia barra pesada, separada da base trabalhadora. Já demonstramos aqui em outras oportunidades, que desde a abertura da China para a economia de mercado, o governo pós-Mao ergue uma potência estruturada sob uma situação politicamente esquizofrênica entre a centralização do Partido Comunista chinês e a economia de mercado. Sob estas circunstâncias, é natural que os artistas chineses exponham conscientemente no seus trabalhos as contradições, as confusões e os problemas com a censura. Ao retratar a China sem recorrer ao realismo socialista, vários artistas encontram-se sobre uma encruzilhada histórica: como cultivar os valores socialistas diante da introdução de relações capitalistas? Esperamos sinceramente que os artistas chineses cheguem a uma resposta revolucionária.
Lenito
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