Se as eleições de outubro empurram boa parte da agenda política para as disputas partidárias, todos sabemos que existem diferentes maneiras para as organizações de esquerda encararem este momento. No que tange a política cultural, os debates eleitoreiros levam também á diferentes formas de entendimento. Se dentro dos partidos burgueses, ou em processo de aburguesamento, é de praxe colocarem " a cultura " enquanto sendo a caçulinha diante dos dilemas da saúde, da educação, do transporte, etc(como se a cultura estivesse fora destas questões...), as organizações de esquerda devem apresentar necessariamente uma visão da cultura que de alguma maneira contribua para a perspectiva política do socialismo.A questão cultural, e especificamente artística, pode ser resumida dentro de duas atitudes fundamentais por parte das organizações da esquerda: aqueles que travam disputas por verbas governamentais, ocupando espaços em secretárias de cultura e propondo projetos para a captação de recursos. Num segundo grupo encontramos aqueles que não abrindo mão de sua independência perante o aparelho administrativo capitalista, produzem arte(e outras iniciativas culturais) na marra(recorre-se á vaquinhas, ao apoio sindical e quando não tem jeito arranca-se do próprio bolso).
Na primeira posição, encontramos tanto o militante honesto (que deseja utilizar a verba pública para projetar trabalhos artísticos, conseguindo viver da arte, ao mesmo tempo que sua obra é um esforço concreto para colaborar com a hegemonia da classe trabalhadora) quanto aquele que sem apresentar qualquer tipo de compromisso político, exatamente por não ter ideologia definida, interessa-se apenas pela verba para concretizar seus projetos artísticos narcisistas(sendo inclusive comum entre estes " artistas " o conformismo estético e a submissão ás exigências do mercado). Já dentro da segunda posição militante, aonde geralmente está a esquerda independente e libertária, opta-se pela atitude guerrilheira. Bem, qual seria a posição que corresponde as exigências socialistas? Creio que não avançaremos no debate caso as questões culturais não forem trabalhadas em suas profundas particularidades políticas. Enquanto as organizações de esquerda não fizerem um trabalho sistemático em torno da produção artística, abrindo espaço para as discussões estéticas na mobilização política, a arte irá permanecer refém de uma ótica economicista e politiqueira.
A arte só poderá ajudar á responder ás embromações dos partidos burgueses e aos limites reacionários da mídia capitalista, quando for suficientemente levada a sério. Deixando de ser encarada enquanto questão supérflua, a política cultural poderá ajudar na própria melhora da política da esquerda.
Lenito
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