Se a proliferação de novas tecnologias digitais é algo que faz aflorar a produção audiovisual, temos que observar ao mesmo tempo qual é a formação ideológica de quem filma. Tratando-se especificamente do cinema brasileiro, aquele que projeta bilheteria e deixa o mercado sorridente, devemos nos perguntar o que pensa e o que pretende expressar o cineasta. Alguns irão falar que é preciso filmar aquilo que " o público " quer. Portanto, a exemplo da teledramaturgia cada vez mais mutilada e redundante, não cabe invenção e reflexão sobre a raiz dos problemas econômicos e sociais, pois a fórmula do sucesso é o que importa. Outros dirão que no cinema brasileiro de hoje existe uma " diversidade de olhares ", maneiras muito pessoais de olhar a vida no Brasil. Não haveria assim problemas objetivos da realidade brasileira, mas apenas impressões pessoais. Diante de tudo isso eu digo que é preciso pensar em uma formação intelectual progressista entre os cineastas brasileiros.
Quando falo em formação, não é só esse negócio de escola de cinema, de universidade. Tudo isto é importante, mas um cineasta disposto a olhar com coragem intelectual os problemas do nosso país, precisa ser bicho solto: ele precisa dominar técnicas de filmagem, edição, produção, distribuição, etc e tal; mas ao mesmo tempo ele precisa conhecer uma dramaturgia revolucionária como a de Brecht, Piscator e Meyerhold. Fundamental também é a sua formação literária, cabendo a ele conhecer autores que produzem imagens críticas sobre o país, tais como aquelas que aparecem em gente como Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Filosofia, História, sociologia e psicologia, oferecem importantes instrumentos de análise, especialmente se estas se relacionam com o Materialismo Dialético. E por fim, o cineasta que precisamos é aquele cinéfilo que concebe uma História cinematográfica feita de filmes desafiadores, politicamente engajados. É isso ou perfumaria na tela.
José Ferroso
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