quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Modelo de romancista social:

Se alguém se aventura pela palavra escrita precisa no mínimo ter algo a dizer. Este " algo " não são experiências individualistas insignificantes, que no máximo podem interessar ao analista. Tratando-se de Literatura, e muito especialmente da prosa, é preciso contar ao leitor algo relevante sobre o seu povo, sobre as transformações do mundo em que estamos inseridos. Neste sacerdócio pagão de contar histórias, a literatura brasileira serve-se de nomes realmente importantes. José Lins do Rego é sem sombra de dúvida uma chave preciosa para compreendermos quais são as possibilidades críticas do romance social.
 Ninguém descreveu melhor que Zé Lins as profundas transformações na vida social do nordeste entre os anos trinta e quarenta. Em obras como o seu romance de estreia Menino de Engenho(1932) assim como em outros como Banguê(1934), é a crise dos engenhos na região da zona da mata que adquire vulto dramático junto aos problemas sociais: é a miséria propriamente dita. Em outras obras como Pedra Bonita (1938) a revolta popular do cangaço, exemplifica que o autor constrói a imagem de um Brasil que até hoje incomoda. Se a vida dos senhores de engenho e a dos cangaceiros  são produtos históricos que dizem respeito somente ao século passado, outros aspectos sociais marcados pela desolação, são material humano que na narrativa de Zé Lins incomoda. Trata-se do representante de uma geração de romancistas que desafia as falsas interpretações sociais do Brasil. Estes legam romances que não são úteis no ambiente elitista(embora este procure sistematicamente apropriar-se destas obras), mas sim no ambiente popular. É produção literária cujo realismo brutal desafia não apenas o gosto mas as convicções da burguesia brasileira.

                                                                                     Lúcia Gravas 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário