quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Rock, Socialismo e Imperialismo:

Um amigo muito querido, falou-me sobre algo que eu desconhecia por completo: durante o final da década de cinquenta na União Soviética, os jovens driblavam a censura do Estado copiando em chapas de raio-X discos de rock. Fiquei surpreso, pois mal supunha que no mesmo momento em que o rock `n ` roll desafiava a moral burguesa nos EUA, a juventude do bloco socialista também estava muito curiosa sobre este dinamite musical. Tá, eu sabia que os discos de rock chegavam com muito atraso na ex- URSS, que a censura era implacável, que as autoridades soviéticas consideravam Elvis Presley pirado e os Beatles mal exemplo para os adolescentes e que um show do Pink Floyd foi a trilha sonora para o enterro do bloco " socialista ". É curioso como o rock perturbou as duas grandes potências nos tempos da guerra fria. Se constatamos historicamente que o rock foi duplamente considerado fora da lei durante a esquizofrenia cultural daquele período, então o debate musical assume uma dimensão bem mais aprofundada. 
 A classe dominante adora utilizar o rock como exemplo de  "democracia " nos países capitalistas. De fato o controle burocrático sobre a cultura , fez da política cultural  da extinta URSS um acumulo de bobagens. Tudo indica que o movimento dialético da cultura impediu que o gosto cristalizado das autoridades fizesse morada nos ouvidos dos adolescentes russos; naturalmente a garotada desejava uma música capaz de traduzir  suas inquietações.  E olha que existe uma História do rock russo... Mariana Reis num artigo muito bacana publicado na Gazeta Russa, faz um belíssimo panorama do assunto, expondo importantes bandas soviéticas( http://br.rbth.com/).
   Diante da propaganda capitalista que faz uso do rock, devemos tomar o devido cuidado para não sermos corneteiros do capital: se o " socialismo real " temia as expressões culturais do ocidente, em contrapartida não é verdadeiro que o rock seja o coroamento da economia de mercado e do conformismo político.É muito comum que modelos socialistas nacionalistas temam o que vem de fora: cantos, penteados, instrumentos e atitudes podem ser utilizados pelo imperialismo para demarcar terreno e corroer os hábitos da classe trabalhadora. Porém, no caso do rock, o indisfarçável tom de protesto e ataque aos valores estabelecidos, não o coloca enquanto aliado do imperialismo, mas sim enquanto antítese da ordem capitalista. Tão isto é verdade que durante a guerra fria as ditaduras latino americanas desconfiavam que o rock era um fermento de desagregação dos costumes e das tradições, o que facilitaria a emergência da revolução proletária(já mencionei esta questão em outro artigo, quando cito que no Brasil de 1974 a ditadura proibiu os Rolling Stones de tocarem). Paralelamente é verdade que muitos rockeiros foram e são politicamente ambíguos, quando não reacionários: é só olhar atualmente o chamado rock neo conservador. Em contrapartida, outros rockeiros não deixam de acenar para o inconformismo político, numa perspectiva próxima da esquerda.
 Hoje em dia, quando o capital saqueia o globo sem que existam muitas resistências, fica difícil analisar o quanto o rock ainda pode ser politicamente perigoso. Entretanto, existe uma evidência que acena para um norte: para a maioria dos jovens militantes de esquerda, a sonoridade identificada á revolta contra a classe dominante passa principalmente pelas estruturas musicais do rock. Dentro das organizações de esquerda, que devem realizar dentre outras coisas o debate musical, a construção de uma nova política cultural socialista, faz com que o rock esteja necessariamente presente. 


                                                                                                Tupinik 

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