Num momento em que se comemora os cinquenta anos do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, Glauber Rocha tem montado o seu único( e inédito) texto para o teatro. Jango: Uma Tragedya, foi escrito por Glauber em fins de 1976, pouco tempo antes de João Goulart, presidente deposto pelo golpe de 64, morrer. O cineasta baiano entregou a peça para o jornalista e filósofo Luiz Carlos Maciel, em 1980. Graças á iniciativa do diretor Márcio Meireles, o texto de Glauber Rocha ganha vida em 2014 no palco do Teatro Vila Velha, em Salvador.
A peça de Glauber exprime todo um processo de notável radicalidade estética, não se prendendo a uma história linear mas concretizando todo um pensamento poeticamente livre acerca da vida política brasileira. Glauber, que naquele período estava influenciado pelas ideias de Jango, acreditava que o processo de redemocratização do país deveria contar com a participação dos militares. Se esta opinião fez com que o principal ideólogo do Cinema Novo, se tornasse alvo de inúmeras pancadas da esquerda, a incompreensão só cresceria nesta fase final de sua carreira: era o momento em que uma arte libertária jorrada diretamente do inconsciente de Glauber, fundia-se com polêmicas visões sobre a política do Brasil. Ao lado de obras como o romance Riverão Sussuarana e o filme A Idade da Terra, a peça Jango: uma tragedya, exprime o auge da ousadia, do delírio e do experimentalismo de um artistas que faz falta.
Geraldo Vermelhão
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