domingo, 21 de dezembro de 2014

Descanso do guerreiro(voltaremos em janeiro de 2015)

2014 foi para o nosso blog mais um ano de militância. Trata-se de todo um empenho baseado na crença de que a arte participa ativamente da construção de outra realidade política, de uma nova cultura que se opõe ao sistema capitalista que rege as relações humanas. Para alguns isto pode até soar quixotesco, mas o fato é que estamos na praça desde 2011 e estamos longe de bater em retirada. Nosso foco de guerrilha cultural é pequeno, mas a exemplo de uma série de outras iniciativas espalhadas por este país, cumpre com o seu papel de contradizer e contestar a língua morta da sociedade burguesa. Neste sentido publicar artigos, manifestos e vídeos corresponde a um conjunto de inquietações intelectuais que visam refletir sobre a oposição artística na era contemporânea. No nosso entender é exatamente este o papel da imprensa cultural de esquerda. 
 Como é de praxe, iremos tirar uns dias de folga para recarregar as baterias e assim dar prosseguimento ao nosso combate no ano que vem. Voltaremos com o nosso periódico em janeiro: 2015 promete ser um ano de luta. Insistiremos no fato de que a própria luta pelo socialismo depende também de uma militância específica, voltada para o ativismo cultural independente. Aguardem!


                                                                                    Conselho Editorial Lanterna 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A guerrilha cineclubista está em Campinas:

A mobilização em torno de um manifesto lançado por cinéfilos de Campinas, coloca em questão a urgência de recursos para o fortalecimento de uma sala pública de cinema no MIS(museu da Imagem e do Som), localizado no Palácio dos Azulejos. A luta é para que o cineclubismo não se perca: é o cineclube que garante o debate estético e a necessidade de um autentico pensamento cinematográfico. Em Campinas, aonde cinéfilos se recuperam do fechamento do Cine Topázio, o MIS representa o foco de todas as esperanças para que a vida cinematográfica não morra na cidade.
  Este movimento é imprescindível para a própria vida cultural de Campinas. O MIS é um espaço aonde funcionam duas salas de exibição, nas quais o público é quem faz a programação. Para nós do Lanterna, por exemplo, o MIS é vital, pois sem este espaço não realizaríamos em Campinas exibições de filmes  que exprimem nossas indagações estéticas e políticas: os ciclos Revisão Crítica do Cinema Novo e O que é Cinema Político?, não seriam possíveis sem este espaço. Mas como vem sendo frisado pelos cinéfilos, as salas do MIS necessitam de verbas. Por hora a vida cinematográfica está sendo possível graças ao empenho militante de cinéfilos que se organizam na base da autogestão. A própria sala Glauber Rocha, que defendemos em outras ocasiões neste blog, depende de verbas para sua viabilização. Tudo indica que no início do ano que vem estão previstas mudanças para melhorar o espaço. Aguardemos e continuemos nossa agitação cultural em prol deste espaço.
 Estejam certos de que Campinas é um polo guerrilheiro para o cineclubismo.


                                                                                     Conselho Editorial Lanterna   

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Marxismo e criação artística:

Definitivamente é preciso reagir contra o conservadorismo que instalou-se na vida cultural. A filosofia política do marxismo e sua contribuição ímpar para a reflexão estética, não visa criar ou instituir um modelo artístico. O materialismo dialético oferece um método de compreensão histórica dos fenômenos estéticos e uma fundamentação política para que o artista olhe criticamente para o seu próprio tempo. Não existem portanto " fórmulas marxistas " para a arte mas uma posição política revolucionária que pode influenciar a arte. Esta distinção é importante, pois ela nos ajuda a compreender que não existe uma estética marxista mas uma contribuição filosófica do marxismo para a criação de diferentes manifestações artísticas.
 Assumir o ponto de vista do comunismo é uma tarefa árdua, sobretudo num momento em que os tentáculos do imperialismo sufocam as formas de resistência política e  intelectuais a mando da burguesia brasileira querem fazer chacotas do socialismo. É hora de vociferarmos contra o conservadorismo e a cultura é um terreno aonde isto pode ser feito com toda energia e criatividade.


                                                                                                      Os Independentes

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O futuro cultural de Cuba:

O mundo está atônito diante da reaproximação dos EUA com Cuba. O que chamam de " abertura " naturalmente significa a inserção do capital na ilha e o enfraquecimento ideológico do socialismo. Se a Revolução de 1959 expulsou o imperialismo de Cuba e arrebentou com a ditadura de Fugêncio Batista, estas conquistas históricas encontram-se ameaçadas. Mas sejamos críticos: o isolamento de Cuba é fruto de um modelo de socialismo nacionalista, e que portanto a pressão imperialista caracterizada pelo embargo econômico tende a aumentar. Do ponto de vista político e cultural a guerra de guerrilhas, trouxe resultados extraordinários: basta pensar na utopia de um cinema latino americano nos anos sessenta, gerador de uma nova cultura revolucionária. A tática foquista da guerrilha estendeu-se para o campo estético, sendo a arte um foco que resiste contra a cultura dominante. As últimas notícias prejudicam esta hipótese cultural? Definitivamente não: o que está em crise é um modelo burocrático e nacionalista de socialismo.
Devemos  assimilar as contribuições culturais e políticas da Revolução(como as lições de Che) e ao mesmo tempo compreender os seus erros: a liberdade artística e sexual por exemplo, não são inimigas mas necessidades da própria revolução socialista. A burocracia cubana errou muito do ponto de vista revolucionário. Portanto não nos abalemos diante dos últimos acontecimentos: não é a tentativa de criação de uma cultura socialista que está em crise. O que está em crise são os métodos burocráticos que impedem o próprio avanço político e cultural do proletariado rumo ao socialismo. Para sabermos mais sobre o futuro de uma cultura socialista em Cuba, estejamos atentos aos próximos dias.


                                                                                                          Lenito

O trabalhador enquanto protagonista do romance brasileiro:

Estando a história do romance inserida na própria História, a primeira inevitavelmente posiciona-se diretamente ou indiretamente  sobre os conflitos de classe. Partido da afirmação certeira de Marx, para quem a a luta de classes é o motor da História, a literatura exprime de um jeito ou de outro uma opção de classe. Naturalmente que a posição em prol dos trabalhadores, requer sensibilidade para conseguir traduzir no plano do texto o universo cultural e os problemas econômicos decorrentes de uma determinada organização social. Esquece-se frequentemente que a literatura brasileira possui um amplo legado de contestação política.
 A literatura é no Brasil de hoje uma área que recebe pouca atenção, seja no ensino ou na imprensa. Se é verdade que existem bons professores/pesquisadores que atuam nas mais diferentes redes de ensino e se também é fato que existem alguns periódicos que procuram valorizar a produção literária, não se pode negar que na sociedade funcional a literatura é desprezada. Existem razões políticas para isso: vários dos principais romancistas e poetas da literatura moderna e contemporânea brasileira foram escritores de esquerda. Tá na cara que a literatura brasileira não pode salvar-se sozinha diante de uma cultura que a despreza. Portanto, a saída para o escritor brasileiro, a exemplo da classe trabalhadora, é engajar-se na causa do comunismo. Mais uma vez o trabalhador brasileiro deve ser o protagonista da ação, seja no romance ou na própria luta política.

                                                                                            José Ferroso

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Arte de esquerda e cultura de massa:

Definitivamente a arte capaz de exprimir os interesses históricos do proletariado, não pode cair nas ciladas do hermetismo e do populismo. O desafio está em comunicar-se modernamente mas sem recair em uma estética desconectada da realidade cultural das massas. Para " elevar o nível das massas " como queria Maiakóvski, devemos buscar uma linguagem que não seja nem palatável e nem restrita a um público elitizado e portanto familiarizado com inovações artísticas.  Vencer a falsa dicotomia entre radicalidade estética e gosto popular, requer que enfrentemos a questão da cultura de massa.
 Não podemos utilizar superficialmente padrões estéticos convencionais da indústria cultural e forçar a barra inserindo uma mensagem política revolucionária. Obviamente que precisamos combater a dominação capitalista inclusive no plano da percepção. Entretanto, é impossível subestimar a produção cultural vinculada aos poderosos conglomerados econômicos que apresentam-se(impõem-se) através dos meios de comunicação de massa. Um filme ou um seriado de super herói por exemplo, possui um efeito de comunicação direta com o público. Se a forma e o conteúdo são geralmente reacionários, devemos considerar as razões que levam a bem sucedida introjeção destas estéticas comerciais na população. Investigar estes fenômenos é um primeiro passo para que a chamada " arte de esquerda " não fique restrita aos guetos intelectuais da classe média de esquerda, mas alcance os trabalhadores.


                                                                                           Marta Dinamite

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Cinema de poesia:

Não se combate o quadro de alienação do cinema comercial somente com ideias políticas. Se o realismo é importante na elaboração de situações em que as imagens captam os problemas do capitalismo, existem outros discursos cinematográficos capazes de desbravar e não domesticar o olhar. Não é nenhuma novidade afirmar que existe uma relação eletiva da montagem cinematográfica com a poesia. Mas tudo indica que a conversão do filme em um poema audiovisual, é algo cada vez mais estranho para um público guiado pelo lixão comercial; verdadeiro deposito de tiroteios banais e risadas cavalares. Quando um cineasta decide guiar-se pela imaginação, pelas imagens recalcadas pela educação burguesa, ele pode devolver a este mesmo público uma experiência cultural verdadeiramente perigosa e altamente libertária.
 O surrealismo já deu inúmeras demonstrações históricas da sua vigência subversiva no plano do cinema. O filme enquanto produto direto do desejo, do sonho proibido e da revolta contra a classe dominante. Luis Buñuel é inquestionavelmente o autor cinematográfico que melhor condensa uma filmografia nascida da imaginação selvagem e do constante questionamento da moral estabelecida. Para este cineasta espanhol, que no final dos anos vinte representou um reforço da pesada no time do movimento surrealista, a imagem significa a violação de todos os tabus. Nem é preciso dizer o perigo que Buñuel representa para o espectador atual, cuja " formação " cinematográfica não ultrapassa a miserável mentalidade comercial em que o " maior clássico " do cinema encontra-se num ridículo blockbuster dos anos oitenta(rs). 
 Desenterrar filmes de poesia e empenhar-se na criação de novos, significa dar livre passagem para o sonho, para o delírio que não foge mas combate os valores burgueses. A História do cinema está por ser reescrita. 


                                                                                   Os Independentes  

domingo, 14 de dezembro de 2014

A memória teatral e musical enquanto resistência política:

Para os lacaios da classe dominante, não basta marginalizar as ideias revolucionárias. O que eles querem é sepultar as manifestações políticas e culturais que enfrentaram períodos de repressão na História do nosso país. Sendo assim, existe uma orquestração de informações cujo grande objetivo é criminalizar os militantes de esquerda; especialmente durante o período da ditadura militar. Mas enquanto um punhado de pequenos burgueses histéricos pedem por um novo golpe de Estado, temos o dever de cultivar as formas de resistência contra o autoritarismo de ontem e de hoje. O teatro e a música popular no Brasil, são expressões privilegiadas disso. 
 Existem inúmeros livros, CD´s e DVD´s que captam através de documentos e análises históricas, o inestimável valor da nossa produção teatral e musical que fez questão de se opor ao regime militar e sua brutalidade expressa na censura, nas prisões, torturas e assassinatos. Livros atuais como o recentemente lançado Com Séculos nos Olhos- Teatro Musical e Político no Brasil dos anos 1960 e 1970(o livro saiu pela editora Perspectiva), de Fernando Marques, são assim demonstrações valiosas que flagram a coragem e criatividade de artistas que cantavam pela libertação do povo brasileiro. Se hoje alguns cantam, escrevem e interpretam a favor da burguesia, outros já cantaram pela liberdade. Colocar em foco pessoas como Augusto Boal e Nara Leão, significa enfrentar os atuais assassinos da memória.


                                                                                         Geraldo Vermelhão 

Antiarte não é questão formal mas política!

Dentre as redundâncias que alguns críticos e historiadores da arte emitem, encontramos aquelas em que o fenômeno da antiarte é julgado por critérios estéticos. Para muitos a antiarte que nasceu da rebelião Dadá do início do século passado, teria se esgotado enquanto " vanguarda ", pois a arte contemporânea não possui mais nenhuma amarra estética. Mas além de não ter nada a ver com vanguarda, na medida em que o próprio Dadá recusou a condição de escola artística, a antiarte questiona a própria instituição da arte e logo a organização social que esta expressa. Portanto, antiarte não é uma oposição formal mas um gesto político que atinge a cultura ocidental e por tabela os valores e tradições que regem a civilização ocidental. 
 Várias expressões históricas de antiarte tornam-se evidentemente prisioneiras do seu tempo. Porém, a antiarte é uma constância que possui pelo menos um século. Esta rebelião não é simplesmente estética: ela é uma reivindicação anárquica que repudia a cultura burguesa.


                                                                                               Marta Dinamite 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A influência de Brecht no teatro brasileiro:

Até o mais reacionário dos críticos teatrais sabe que seria inconcebível, pensarmos o teatro brasileiro, sem a presença fecunda das ideias de Bertolt Brecht  Do Teatro de Arena ao Teatro Oficina e chegando ao pessoal da Cia. do Latão, a estética brechtiana é um dado recorrente. Que o diga Fernando Peixoto(este cara faz falta...) que nos atualizou nas lições do teatro dialético. A prova de que Brecht é insuperável na construção de um moderno teatro político, encontra-se nas atuais reflexões históricas e na proliferação de novos grupos teatrais; tudo isto acentua cada vez mais o peso decisivo do teatrólogo alemão em nossos palcos. 
 Temos no Brasil uma tradição teatral altamente politizada: Augusto Boal, Vianninha, Ruggero Jacobbi e vários outros. Inquestionavelmente Brecht representa um importante reforço para os nossos dramaturgos e teatrólogos avançarem no campo de um teatro comprometido com a transformação social. Isto é evidente na vanguarda teatral dos anos sessenta e hoje com os grupos teatrais engajados do século XXI.


                                                                                              Lenito 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Artistas e povo devem se libertar dos carrascos:

A importância histórica de revelar os crimes políticos cometidos pelo Estado durante a ditadura militar, atinge de perto artistas, e muito especialmente artistas de esquerda. Se existe uma direita violenta ganhando espaço na sociedade brasileira atual, trabalhadores e militantes de esquerda precisam reagir nos campos político e cultural. É parte desta reação compreender a denunciar os frutos podres legados pelo golpe de 64. Nenhum artista pode ficar indiferente diante da estupidez, da brutalidade e da censura durante o período da ditadura. Até porque, como afirmou Brecht ao referir-se aos crimes do nazismo, se não estudarmos o passado, ele volta.
 Devemos combater os carrascos do povo, os carrascos da cultura e da arte: ontem e hoje.


                                                                                   Conselho Editorial Lanterna

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Arte e socialismo na China:

Existem muitas dificuldades para o pesquisador interessado em compreender as relações entre arte e socialismo na China. Estas dificuldades passam pelo difícil acesso ao legado artístico contemporâneo da China e por uma bibliografia orquestrada por jornalistas, críticos e historiadores que na maioria das vezes emitem julgamentos viciados, maniqueístas e declaradamente anticomunistas(o que prejudica a reflexão estética sob o ponto de vista marxista). Penso que o estudo sobre a " arte socialista " chinesa não é algo que interesse tão somente aos maoistas e defensores do realismo socialista(se é que é possível defender o realismo socialista hoje em dia). As correntes do marxismo, de um modo geral, podem beneficiar-se de análises cujo objetivo não é a propaganda ideológica por meio da pesquisa(como os intelectuais burgueses fazem) mas a crítica e o entendimento da criação artística na China dos últimos 65 anos. 
 Apesar de termos acesso a alguns cartazes, algumas pinturas e alguns poemas chineses, produzidos sobretudo durante a polêmica Revolução cultural dos anos sessenta, ainda  falta muito material. No caso do cinema por exemplo, isto torna-se mais evidente: se hoje em dia dispomos de caixas de DVD`s sobre o cinema soviético, o cinema revolucionário chinês é algo praticamente desconhecido, que não foi devidamente discutido e estudado pela esquerda brasileira. Mas qual seria a relevância estética de toda esta produção artística? Antes cairmos no mérito do processo criativo e da problemática questão envolvendo o culto realizado em torno de Mao Tsé Tung , devemos levar em conta que perante todas as contradições do socialismo chinês erguido em 1949, a questão cultural esteve diretamente ou indiretamente presente. A separação entre trabalho intelectual e trabalho material que foi questionada pelo maoismo, traz um espinhoso terreno que os marxistas precisam levar em conta para prosseguirmos nos debates.

                                                                                     Geraldo Vermelhão/José Ferroso 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A busca por um teatro socialista:

Para atingirmos um método de representação teatral que exprima o objetivo histórico do socialismo, devemos esmiuçar tanto as experiências teatrais ocorridas no extinto bloco socialista quanto refletirmos sobre os avanços estéticos e políticos do teatro revolucionário ocidental. O primeiro caso é no mínimo difícil, sobretudo pela escassez de informações históricas que são ainda hoje negligenciadas pela opinião pública internacional conduzida pelos capitalistas. Para o segundo caso, deparamo-nos com outro problema: o esvaziamento político das conquistas cênicas contemporâneas e a crescente predominação de tendências estéticas conservadoras.
 Afirmar que toda a produção teatral e artística em geral dos países que atravessaram revoluções socialistas, limita-se ao realismo socialismo, é uma generalização grosseira. Tanto na ex União Soviética quanto no leste europeu, na China, em Cuba e outras regiões, existe uma rica produção que por maiores que sejam as suas contradições ideológicas e formais, são negações da arte massificada e alienante verificada no mundo capitalista. Ao mesmo tempo em que nos esforçamos nesta pesquisa histórica, que encontra vários obstáculos documentais, observamos hoje que autores como Brecht e Piscator(e no caso brasileiro em particular autores como Vianinha e Augusto Boal), são combatidos por tendências irracionalistas/pós modernas que nada acrescentam para o espectador que precisa compreender a realidade social. A coisa toda agrava-se ainda mais com o fortalecimento do teatro comercial, o qual retira o campo de reflexão política proporcionado pelo teatro. 
 Estejamos atentos e preparados para lutarmos por um teatro socialista hoje.

  
                                                                                          José Ferroso   

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Cinema enquanto janela para o horizonte social:

Qual pode ser a função do cineasta num país atravessado pela miséria? Para muitos cineastas formados em uma perspectiva política conservadora, o filme deve ser apenas um produto rentável, que diverte sem compromisso. É claro que o cinema passa pela diversão, mas isto não subtrai a necessidade orgânica de um olhar revolucionário sobre a realidade brasileira. O filme é uma forma de denúncia em que a miséria não deve inspirar piedade, mas estimular no espectador o desejo de transformação política. 
 É ultrajante que as telas(de um modo geral) apresentem filmes em que muitos casos ocorre o retrocesso estético e político. É preciso retomar a linha política legada pelo movimento do Cinema Novo, se quisermos olhar criticamente e com originalidade artística para o Brasil.  Filmar exige responsabilidade política sobre o objeto filmado. 

                                                                                         Geraldo Vermelhão

A consciência de classe passa pela experiência estética:

Não se pode insistir na consciência de classe como consequência mecânica acerca do problema econômico. Compreender a organização da economia no sistema capitalista, envolve um processo de apreensão política em que a exposição do problema social(decorrente da exploração econômica) não deve ser encarada apenas objetivamente mas subjetivamente. A dimensão subjetiva, que permite clareza interior para a ação política que é exterior, passa portanto pelas imagens que o trabalhador possui acerca de si e do mundo do qual ele é parte.
 Devemos trabalhar pela destruição das imagens reacionárias e pela construção de imagens revolucionárias. Enriquecer a subjetividade do trabalhador na direção da organização política de classe, é a principal função cultural de hoje: para frear a onda direitista no país necessitamos de experiências estéticas capazes de fortalecer a consciência de classe.


                                                                                                    Lenito   

sábado, 6 de dezembro de 2014

Literatura proletária nos EUA:

É muito recorrente entre alguns comunistas brasileiros, especialmente entre o pessoal das antigas(formado numa concepção nacionalista de cultura) julgar toda a arte norte americana como sendo " imperialista ". É evidente que a maior potência econômica e militar do capitalismo, exporte exaustivamente imagens e discursos que expressam o seu poder político sobre os países capitalistas pobres. Porém, seria de uma grande burrice desconsiderar a contribuição revolucionária de várias das manifestações culturais norte americanas. Tratando-se especificamente da literatura, encontramos especialmente nos anos 30 uma produção engajada, de esquerda, que teve talvez no escritor Michael Gold seu exemplo mais combativo.
 Se a cultura dominante dos EUA expressa uma violenta burguesia racista, em cidades como Nova York existem exemplos históricos de crítica e oposição radical. É no bairro do Greenwich Village que gente como John Reed e Michael Gold estabeleceram importantes contribuições para o pensamento de esquerda; seja através do jornalismo político, da crítica literária, bem como da produção teatral e da criação de uma literatura proletária. Michael Gold  é um autor que deve ser lido intensamente por escritores brasileiros. Em obras como Judeus Sem Dinheiro, de 1930, Gold expõe com maestria a pobreza nos guetos. Neste romance em particular , o autor desmente o ultrajante discurso do antissemitismo ao mostrar que existem sim judeus proletários.
 Observando o caso de Gold(que inclusive foi amigo de Jorge Amado, nome exponencial na literatura de esquerda feita no Brasil), e de vários outros intelectuais norte americanos, é possível constatar que nem todos fecham com Tio Sam.


                                                                                                    Lúcia Gravas    

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O avanço na música brasileira:

Para a garotada esperta, é uma piada privar a música brasileira das influências internacionais.Chegamos a um momento culturalmente positivo, em que a contestação social por meio da música popular não respeita qualquer espécie de fronteira nacional. Mas misturar não implica em despolitizar: na mais completa ausência de separações estéticas, é preciso cultivar a força revolucionária(ou ao menos transgressora) da cultura brasileira. 
O som universal reivindicado pelos tropicalistas no final dos anos sessenta, não era hibridismo culturalista, mas uma reação estética/política ao descompasso da MPB convencional em relação ao avalanche internacional da cultura jovem(que até então era progressista). O resultado da ousadia tropicalista está numa produção musical que não fica atrás daquilo que havia de mais avançado na música internacional. A prova disso pode ser sentida no álbum duplo Gilberto Gil e Gal Costa: Live in London(1971); uma pérola musical que foi lançada no início do semestre. Gil e Gal(assim como Caetano, os Mutantes e Tom Zé) revelaram no plano internacional uma atitude de vanguarda, libertando nossa música de traumas coloniais. Mas feitas estas conquistas estéticas, em qual direção deve-se seguir? 
É verdade, muita coisa boa rolou(e rola) na música brasileira nas últimas quatro décadas. Porém, parece que a verdade opressora do mercado aceitou todas as estéticas, enquanto que a esquerda perdeu o fôlego no campo musical. Se a atitude tropicalista foi um avanço diante do nacionalismo do samba(diga-se de passagem: o samba é revolucionário, mas os stalinistas o aparelharam no século passado...), a esquerda avançou pouco nas discussões musicais. É preciso de alguma maneira retomar o fio da meada. 


                                                                                                 Tupinik

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A trincheira artística dos nossos dias:

Como vem sendo destacado pela grande imprensa, boa parte das obras da trigésima primeira Bienal de São Paulo(que termina no próximo dia 7/12), serão lembradas pelo seu caráter de contestação política. Destaque especial é dado aos trabalhos da dupla de artistas formada pelo britânico John Barker e pela austríaca Ines Doujak. Ambos mostram em suas obras que a dimensão subversiva da arte contemporânea não se separa da própria radicalidade política. Sob diversos suportes a imagem para esta dupla de artistas torna-se nitroglicerina: o assunto político envolvendo líderes e acontecimentos polêmicos da era contemporânea, recebe um tratamento estético direto, frontal, sem meias palavras.  Trata-se de um ultimato dado ao relativismo oco que rasteja de modo reacionário sob o pensamento estético pós-moderno. São as relações bombásticas entre arte e política que explodem no rosto do espectador através de obras como Haute Couture 04 Transport  Velvet 1954.   
 A dupla Doujak e Barker é presença definitiva na trincheira artística dos dias que correm. O fato de seus trabalhos serem debatidos no Brasil da atualidade, é da maior importância: diante de um cenário político reacionário, em que neoconservadores dizem para os militantes de esquerda " irem para Cuba "(rs) , esta concepção de arte torna-se um foco de resistência. A própria biografia de Barker, que participou da luta armada na Inglaterra no início dos anos setenta com o grupo Angry Brigade, e hoje é um dos artistas politicamente mais contestadores, desafia os reacionários de plantão. Salve a arte de brigada!


                                                                                       Marta Dinamite   

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A desconstrução da linguagem cinematográfica é um ato político revolucionário:

Jean Luc Godard chamou a atenção dos comunistas franceses em 1967 , quando afirmou que a esquerda possui uma formação cinematográfica conservadora. Esta observação ocorrida no ano em que o cineasta francês lançou o provocativo filme A Chinesa, revela-se ainda extremamente pertinente. Não adianta nada possuir uma formação política progressista e uma formação cinematográfica reacionária. Esta contradição recorrente na educação do militante de esquerda, gera um grande descompasso ideológico na interpretação da imagem e logo na própria interpretação da realidade política. Ainda mais quando no atual momento histórico, a plasticidade imperialista dos filmes hollywoodianos e do cinema comercial brasileiro, acaba por reforçar as ilusões diante das cenas. 
 Um filme nunca é revolucionário quando o cineasta não se interroga sobre os elementos técnicos, gramaticais e estéticos que compreendem a linguagem cinematográfica. O anestesiamento diante de uma situação fictícia representada na cena de um filme, já deu provas quanto aos fins políticos que ele serve: a ilusão de que personagens e situações são " reais ", (ainda que o tema possa ser fantasioso) faz com que o espectador encontre-se passivo diante da orquestração do pensamento do cineasta; no contexto comercial o diretor fica oculto, quietinho, negligenciando que a sua maneira de representar fatos obedece a uma determinada ideologia política(ainda que ele não faça menor ideia de qual seja a sua). 
 As experiências audiovisuais mais inovadoras de ontem e de hoje, precisam desafiar/provocar o olhar do espectador que devora porcarias com os olhos. Filmar e exibir filmes são atos de militância tão urgentes quanto panfletar e participar de reuniões ou assembleias. 


                                                                                          Os Independentes  

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O exemplo do Proletkult:

O fato da luta de classes permear a cultura, leva-nos a concluir que uma arte capaz de exprimir e condensar os interesses políticos do proletariado deva surgir do próprio proletariado. Sim, hoje a situação histórica da classe operária não é a mesma de cem anos atrás: o capitalismo de serviços enquanto modelo que articula-se com outras atividades econômicas exploradoras, tais como aquelas encontradas na  indústria, na construção civil e nas áreas rurais, confunde a cabeça dos trabalhadores. Seduzidos por falsos discursos de prosperidade, os trabalhadores acabam pela fragmentação do espaço social do trabalho, não se reconhecendo muitas vezes como parte de uma classe(e sabemos que é a classe trabalhadora que pode abolir o trabalho alienado e toda servidão capitalista). Estes problemas devem empurrar  a vanguarda dos trabalhadores para o estudo e o cultivo das lições políticas e culturais encontradas na História do movimento operário. Além disso, os partidos e movimentos sociais de esquerda precisam estimular a criação cultural combativa entre os trabalhadores; isto ajuda a consolidar a consciência de classe. A experiência soviética, que ainda hoje é a principal escola política do marxismo, revela iniciativas formidáveis como o Proletkult.
 Criado em novembro de 1917 e liderado por Bogdanov, o Proletkult(movimento de cultura proletária) expressou no plano da cultura a própria Revolução de outubro. Enquanto centro da produção artística soviética, o Proletkult revelou a necessidade dos trabalhadores fazerem de filmes, cartazes, peças de teatro e outras manifestações, o coração por onde iria pulsar uma nova cultura: a cultura criada pela classe operária. Erros e críticas marcam os turbulentos anos do Proletkult(Lenin e Trotski foram críticos ferrenhos de uma concepção histórica em que o proletariado cria a sua própria cultura; sendo que ambos os líderes fixavam suas preocupações num longo processo educativo por onde faria-se nascer uma nova cultura). Deixando estas polêmicas históricas de lado(e defendendo aqui a legitimidade política em torno de uma arte proletária), creio que o Proletkult apresenta registros importantes, presentes por exemplo nos trabalhos iniciais de gente como Meyerhold e Eisenstein. Estes registros precisam de alguma maneira ligarem-se ao contexto cultural do proletariado de hoje. Respeitando as especificidades históricas do Proletkult, devemos ter em mente que ele pode ser um fermento na criação artística dos trabalhadores de hoje.


                                                                                                José Ferroso 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A criação artística na sociedade de classes:

Para aqueles que não acreditam em fatos mas em interpretações " individuais " da realidade, a arte é quase um exercício luxuoso, um capricho dentro do conhecimento humano. Sem compromisso e desenraizada da realidade material, a obra de arte seria um espectro individualista que se manifesta segundo risíveis pretextos metafísicos. Ora, o marxismo incomoda este delírio reacionário pela averiguação concreta dos fatos: vivemos na sociedade de classes; alguns podem usar a arte para se esconder de si mesmos e dos outros homens(ainda que ocorra a " comunicação ", rs, entre eles a partir da obra de arte). 
 Ao representar o mundo de acordo com seus pensamentos/sensações o artista apresenta uma percepção incompleta se não considerar a divisão social do trabalho. As ideias vagas devem ser respondidas com imagens que exprimam o que existe, na sociedade dos homens e não no distante ego celeste. Compreender a luta de classes significa preparar as imagens da libertação e não do escapismo.


                                                                               Geraldo Vermelhão

Arte e os fatos sociais:

Leitores que leem orelhas de livros não sabem, mas a expressão " estetizar a vida " possui um sentido que pode ser em grande medida reacionário. Um sentido conservador é obtido a partir de uma imposição esteticista: crer que a realidade deva ser moldada pela arte(ainda que numa proposta aparentemente libertária) é um grande risco político. Com isto quero dizer que se alguns acreditam que a realidade deva se basear em princípios artísticos, trata-se de legitimar aberrações políticas como o fascismo; afinal, não eram os nazistas que defendiam um projeto político fundado sob a irracionalidade da estética? É preciso compreender de forma correta a maneira como a arte pode agir politicamente.
 A arte não é  um reflexo e nem uma entidade autônoma. Podemos medir a sua dimensão ideológica tendo como base a maneira como a realidade está contida na linguagem artística. Não se trata de submeter a arte aos parâmetros da política, mas entender que a experiência artística possui  relações diretas com os fatos sociais. Deixar-se tragar pela experiência estética, num surto de irracionalidade, é a atitude que o artista comunista não pode ter: o artista comunista faz do seu olhar político, baseado na sua leitura objetiva da realidade, expressão revolucionária.

                                                                                 José Ferroso

A literatura realista para Engels :

Geralmente quando o escritor opta pela classe operária, o seu trabalho corre o risco de ser facilmente confundido com o de um propagandista de ideias políticas. Para o marxismo não é bem esta a contribuição política que a literatura pode oferecer. A crítica literária marxista exige evidentemente que o escritor apresente uma visão revolucionária, capaz de fortalecer e instruir o leitor trabalhador acerca da realidade social. Entretanto, a literatura possui seu próprio nível de realidade, sendo as leis internas da obra de arte os pressupostos básicos para que o trabalho do escritor contribua com a transformação política. Engels foi bastante claro em relação a isso em seus artigos e cartas.
   Engels estabeleceu análises contundentes sobre o realismo na literatura do século XIX. Em seus diálogos com escritores e intelectuais, como a escritora inglesa Margaret Harkness, o comunista alemão frisou que o realismo deve manifestar-se no plano da obra e não enquanto um recurso artificial que visa simplesmente ilustrar a posição política do escritor. Evidentemente que o romance de tese é de grande importância política, desde que a ideologia política não suprima a forma do romance, acabando assim por deturpar a obra de arte. Este é sem dúvida um pressuposto fundamental a ser considerado ainda hoje pelo escritor engajado e pela crítica literária.

                                                                                Lúcia Gravas    

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

As lições teatrais de Brecht servem ao cinema político:

O deslumbramento diante das engenhocas do mundo digital, é um dos principais empecilhos para se chegar a uma visão crítica da realidade. Seja diante de um comercial ou de um filme, boa parte do público deseja ser tragado pela imagem. Ver o público sucumbindo diante da experiência audiovisual, a partir de um delírio metodicamente fabricado, é o que todo capitalista deseja para segurar na coleira os consumidores passivos. Para reagirmos contra este avançado estágio de alienação social, coloca-se mais uma vez enquanto projeto estético as lições do teatrólogo alemão Bertolt Brecht.
 Glauber Rocha afirmou, mais de uma vez, que o método de encenação brechtiano é insuperável diante das necessidades de representar os problemas sociais. As técnicas que levam ao distanciamento crítico e ajudam a liquidar todo envolvimento aristotélico, são imprescindíveis para evitar que as pessoas sejam cozinhadas pelas estéticas que trabalham pelo capital. Pensar e se divertir não são noções contrárias, mas aspectos complementares de um espetáculo teatral. Isto pode estender-se para o cinema que não cabe nos estreitos limites do convencionalismo naturalista; aliás é exatamente este mesmo naturalismo que muitos cineastas brasileiros praticam, já que a sua própria formação cinematográfica é reacionária: diante dos filmes hollywoodianos eles estavam bem acordados, mas quando deparavam-se com algum filme de Glauber ou Godard, cochilavam.
  A estética de Brecht aplicada ao contexto audiovisual não é apenas uma escolha, mas uma necessidade política de combate aos hipnotizadores profissionais da era digital.


                                                                                                Lenito 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A força contestadora dos Racionais MC´s:

Se nas últimas duas décadas, vários foram os rappers que capitularam diante da sociedade de consumo(muito especialmente nos EUA), muita gente do universo Hip Hop(sobretudo no Brasil) mantém-se no plano da resistência política, da crítica social. Inquestionavelmente a banda Racionais MC`s é a mais evidente demonstração de contestação social no universo do rap e da música black em geral. Eles acabam de lançar mais um importante álbum: Cores & Valores , sexto disco da banda. Denúncia social e questões envolvendo o cotidiano do proletariado brasileiro, dão o tom de um trabalho sofisticado e esteticamente muito bem elaborado. 
 Para muitos que alimentam-se diariamente das inúmeras formas de irrelevância musical presentes no mundo atual, ouvir Racionais MC´s gera um brusco impacto sonoro: é a realidade, em suas profundas e terríveis  diferenças, que gera a alma contestadora do grupo. Longa vida aos Racionais MC´s !

              
                                                                                                  Tupinik  

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Eros, poesia e luta de classes:

O amplo universo de imagens que povoa a imaginação do poeta maldito, impulsiona o conflito com a moral estabelecida. Enquanto sublimação, a literatura não apenas desvia a energia sexual(que do ponto de vista psicanalítico é a raiz de toda produção cultural). A criação literária também amplia o desejo, fazendo do verbo extensão direta da sexualidade. Pois bem, haveria razão para separar sob o ponto de vista político esta evidência poética da luta material, econômica dos trabalhadores? Filósofos reacionários tentam separar as questões corpóreas e as suas relações com a estética, dos fatos econômicos. Nada poderia ser mais idealista: a existência material pré existente faz com que o corpo e a matéria, e ao mesmo tempo a sexualidade e a economia, determinem as formas culturais: a repressão dos instintos para o trabalho alienado não se separa de uma administração do desejo e da exploração. Penso que a energia erótica da poesia é um gesto de oposição política a isto.
 O poeta para ser revolucionário deve ter consciência acerca dos instintos e da divisão social do trabalho. A própria figura do poeta tende ao ataque, ao contraste com um princípio de realidade opressor do capitalismo. Portanto não é estranho para a ótica marxista incorporar ao seu exército cultural e político , o desregramento que caracteriza gente do calibre de Rimbaud e Lautréamont. O poeta é, como referiu-se Benjamin Péret, um revolucionário em si. Fora disso, o que existem são versinhos.


                                                                                               Os Independentes

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O marxismo é o oposto do realismo socialista:

Para os leitores que são militantes de esquerda, ou pelo menos familiarizados com o pensamento marxista, afirmar que este último não tem absolutamente nada a ver com a estética do realismo socialista, é chover no molhado. Entretanto, devemos hoje estar atentos com o fato da desconstrução do pensamento marxista alimentar calúnias, associando as ideias de Marx e Engels com o zdanovismo. A verdade é que uma nova polarização ideológica tem impulsionado difamações: intelectuais  anticomunistas estabelecem  afirmações caluniosas, colocando Lenin no mesmo pé de Hitler. Tomando os erros políticos do stalinismo e do maoismo enquanto sinônimos de materialismo dialético, estes intelectuais, geralmente muito bem pagos, procuram atacar as ideias socialistas, inclusive no terreno da arte. Não é de se espantar que estudantes e jovens artistas acabem revelando certa antipatia pelo marxismo: a visão caricata e distorcida que toma o zdanovismo enquanto " arte de esquerda ", só pode gerar repulsa. Em contrapartida devemos esclarecer a juventude que isto é exatamente o oposto da maneira como o marxismo entende a questão da arte.
  Colocar em debate a existência ou não de uma estética marxista, é algo que hoje não inclui  mais a propaganda ideológica em torno do " herói coletivo do trabalho ". O realismo socialista enquanto concepção de uma arte que não é criada mas fabricada para atender ao culto direcionado a Stálin, não guarda semelhanças com as reflexões marxistas empenhadas em compreender o papel político da arte para os trabalhadores. Enquanto fator superestrutural, a arte não é reflexo passivo e tão pouco ferramenta submetida aos interesses burocráticos de algum centro de poder político. Para ser revolucionária e portanto participar ativamente da vida política, a arte deve compreender um conjunto de expressões que se opõe ao sistema capitalista, lutando simbolicamente contra um modo de vida estabelecido pela classe dominante. Para o marxismo a arte não é propaganda ideológica, mas uma arma cultural que influi sobre a maneira como os trabalhadores sentem e interpretam a realidade. 
O realismo socialista teorizado por Gorki e Zdanov na ex União Soviética, comprometeu por muito tempo o parecer que os comunistas tinham em relação aos problemas artísticos. Tirando algumas exceções como Leon Trotski, Victor Serge, André Breton, Georg Lukács, Walter Benjamin e Bertolt Brecht, muitos intelectuais e artistas de esquerda  caíram na ladainha stalinista, adotando o realismo socialista. Ainda que estes citados autores não entendam a arte da mesma maneira,  o fato é que o pensamento marxista já deu(através destes autores e de muitos outros) demonstrações históricas  de crítica e superação das baboseiras zdanovistas.
 Se o realismo socialista existe hoje enquanto peça de museu ou estética presente indiretamente em algumas manifestações artísticas e publicitárias, devemos com toda energia combater a sua associação com o pensamento marxista. É preciso em defesa do próprio marxismo, rebater os ataques impróprios cometidos por pessoas cujo papel intelectual mercenário, é defender a arte enquanto mercadoria a serviço da alienação social.


                                                                                          Afonso Machado   

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Realismo e compromisso político:

A opção pelo realismo não é apenas estética. O realismo implica em posicionar-se diante da realidade social. Logicamente que na História da arte realista(englobando assim literatura, pintura, teatro, cinema, etc), nem todos os artistas eram revolucionários e nem sequer sensíveis quanto aos problemas sociais. A " reprodução do real " esteve a cargo também de artistas conservadores e até aristocráticos. Entretanto, o material humano que o realismo abarca no mundo contemporâneo, apresenta inevitavelmente os confrontos entre as classes sociais. Fotografar uma criança pobre e faminta, pode conduzir a imagem para o humanismo burguês ou para a crítica revolucionária. Separar estas intenções ideológicas na criação de uma imagem, passa pela maneira como o artista reconstitui a própria realidade. Neste sentido o marxismo é a principal ferramenta que permite no plano estético a imagem que não inspira piedade, mas exige a transformação da sociedade.
 O chamado neo realismo que se constitui no pós guerra, ainda possui muito fôlego expressivo. Especialmente no cinema, o neo realismo torna-se uma janela que coloca a cabeça para funcionar, mesmo quando " entretida " pelo filme. Sobretudo o neo realismo italiano, que encontrou em gente como Rossellini , uma forma de desintoxicar e libertar a cultura do fascismo, traz para o campo do cinema uma reflexão viva sobre o social. É portanto esta característica do realismo em denunciar e apresentar as contradições da vida em sociedade, que não pode ser desvencilhada de um posicionamento político de esquerda. 
   As lições do neo realismo servem ainda para os artistas brasileiros. Em oposição aos aparatos estéticos de uma classe média cada vez mais preconceituosa e alienada, o realismo ainda é uma fonte de inspiração.


                                                                                      Lúcia Gravas    

domingo, 23 de novembro de 2014

Ocupações ajudam na criação de uma cultura anticapitalista:

De alguns anos pra cá, observa-se um movimento internacional que contesta o desenho excludente das grandes cidades capitalistas. Ainda que não seja um movimento coordenado, trata-se de um conjunto de manifestações culturais que reage contra o desemprego, a privatização, a falta de moradia e a destruição do espaço público. O ato coletivo de ocupação cultural em praças ou locais abandonados, seja para moradia, acampamentos improvisados ou festas alternativas, corresponde a uma posição política que visa redefinir os espaços de convivência social. É o que vem rolando nos últimos anos em cidades como São Paulo, Nova York, Berlim e outros contextos cosmopolitas.
 Se o capitalismo apresenta-se enquanto sistema que explora, descarta, marginaliza e ao mesmo tempo sustenta apelos visuais que manipulam a nossa percepção, as ocupações culturais independentes são acolhedoras, comunitárias e esclarecem o que realmente se passa. É o oposto de uma cultura de shopping center: operários e gente de classe média se misturam em festas, expressam-se artisticamente(cantando e tocando violão, por exemplo) e debatem os problemas do mundo urbano. Aliás, do ponto de vista urbanista, é interessante como locais tidos por " cemitérios urbanos ", por não exercerem uma função econômica que encha o bolso de algum capitalista, tornem-se através de festas alternativas, pontos de convivência cultural.
 Esperamos que estas experiências culturais espalhadas mundialmente, contribuam para fortalecer criações artísticas que impulsionam uma sensibilidade anticapitalista.


                                                                                      Marta Dinamite

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A urgência de uma crítica literária marxista:

As resenhas sobre literatura enxugaram consideravelmente na grande imprensa. Mesmo na imprensa especializada, raros são os momentos em que o crítico apresenta um instrumental teórico eficiente para refletir sobre o significado estético e histórico de obras literárias. Críticos competentes existem, é verdade. Mas precisamos almejar mais do ponto de vista analítico. Tenho pra mim que isto deve-se essencialmente ao fato da literatura não ser uma ilha em si mesma, fazendo-se necessário um método de compreensão acerca do texto literário. Creio que o marxismo responde essencialmente a esta necessidade metodológica.
 Pouca gente comenta o fato de Marx e Engels terem desenvolvido paralelamente aos seus trabalhos voltados para a Economia Política, críticas e reflexões sobre arte e literatura. A razão para isto não se deve tanto ao fato de ambos serem homens cultos: estes autores comunistas, pais do socialismo científico, relacionavam a literatura com o processo histórico. Ou seja, a criação literária não pode ser compreendida fora de um modo de produção. O fenômeno literário é assim parte integrante de uma totalidade histórica, sendo o escritor um participante ativo da própria História. Uma extensa tradição de críticos e estetas marxistas, deram continuidade a esta evidência imprescindível para a crítica literária, nas mais diferentes direções teóricas.
 Se a crítica literária ignorar o marxismo, a tendência é uma reflexão parcial sobre a própria literatura.

                        
                                                                                              José Ferroso  

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Sem cultura afro não existe arte de esquerda:

No dia nacional da consciência negra, faço questão de afirmar que sem a contribuição incalculável da cultura afro, não poderíamos cogitar a existência de uma arte de esquerda. Afinal de contas, o continente americano e o mundo todo, foram salvos da caretice da cultura burguesa graças aos componentes estéticos de origem afro. No Brasil em particular, é preciso destacar que a nossa música foi de fato descolonizada a partir de gêneros musicais como o samba. 
 Nossa infinita gratidão vai para os artistas negros do Brasil que enfrentaram o racismo, a exploração econômica e toda estupidez herdada pela classe dominante deste país. 

                                                                                              Tupinik

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Mostra de Cinema Russo:

Termina hoje(19/11) na Cinemateca Brasileira em São Paulo, a mostra Mosfilm 90 anos. Organizado pelo Núcleo de Cultura da UMES(União Metropolitana de Estudantes), o evento envolveu a exibição de dez longas metragens produzidos pela Mosfilm(Moscou Filmes), importante produtora de filmes russos.Com entrada franca, esta mostra representa uma iniciativa culturalmente louvável, que permite um imprescindível  debate estético sobre a História do cinema russo. Dos pioneiros na criação do cinema soviético dos anos vinte, passando pelo sombrio período das tesouras stalinistas entre as décadas de trinta e quarenta, a mostra aproxima-se dos nossos dias ao exibir produções praticamente desconhecidas pelo público brasileiro: são filmes que datam dos anos sessenta, chegam aos anos noventa e desembocam na atual produção cinematográfica moscovita. Dentro do atual cinema russo,  cabe destacar o longa Tigre Branco(2013), da cineasta Karen Shakhnazarov.
 Sob o ponto de vista revolucionário, todas as atenções acabam se voltando logicamente para o cinema realizado na antiga União Soviética. Muito especialmente a safra de filmes que flagra a intersecção entre cinema soviético e vanguardas, é o que permite uma vital revisão crítica dentro do cinema político: a invenção esteticamente associada aos componentes do Construtivismo russo da década de vinte, foi brutalmente interrompida pela barbárie do stalinismo. Quem não dançasse conforme a flauta do realismo socialista, saia de trás da câmera direto para o campo de concentração. Mas mesmo após a morte de Stalin em 1953, o cinema e a arte soviética de um modo geral, permaneceram apartados da criatividade revolucionária proveniente das vanguardas. Pesquisar e debater as causas disto, leva-nos a uma soma de erros políticos e culturais da ex-União Sovietica(e por tabela da esquerda mundial). É isto que deve ser colocado em foco hoje pelos militantes de esquerda, se quisermos produzir e defender um cinema revolucionário.
  Historicamente falando, é bem mais frutífero ficarmos com os primeiros filmes de gigantes do cinema soviético como Eisenstein e Vertov.


                                                                                         Os Independentes

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O teatro precisa ser parte da cultura dos trabalhadores:

Recentemente ouvi um conhecido dizer que a razão para o teatro não ser parte integrante da realidade do proletariado, deve-se ao fato da arte teatral destinar-se a um público mais " sofisticado ". Gostaria de tentar corrigir tamanha equivoco: o teatro é sob o ponto de vista popular, uma forma de arte que se comunica perfeitamente com as massas. Se ele não é parte do cotidiano da maioria dos trabalhadores, devemos então buscar as causas disso na dinâmica cultural e econômica da atualidade.
 Em muitos casos, peças teatrais são executadas em espaços caros e geograficamente distante da moradia  da maioria da população. Mas ainda assim, existem inúmeros exemplos de teatros em bairros populares e com preços perfeitamente acessíveis. Bem, então qual seria o problema? Há décadas que o teatro perdeu boa parte do seu espaço para os meios de comunicação de massa; e isto agrava-se mediante as tecnologias digitais que em seu uso reacionário reproduzem comportamentos individualistas. Assim como o circo e o cinema, o teatro foi duramente atingido no Brasil por hábitos culturais privados, que adquirem terreno graças a um processo de deterioração do espaço público.Porém, seria hora de declarar que o teatro é parte somente da realidade pequeno burguesa, daqueles que saem para jantar fora e, se der, assistem a uma peça? Creio que é preciso reagir a este fatalismo se quisermos fazer jus  ao potencial político revolucionário do teatro.
 O teatro concebido enquanto manifestação que se faz em espaços populares, como feiras e praças, ou integrando-se aos contextos culturais da juventude proletária em escolas, é uma necessidade que depende de um projeto político contestador de quem produz arte teatral. O teatro é perfeitamente compatível com a realidade do povo brasileiro. O que está em questão são as estratégias a serem usadas para ele enraizar-se na vida cultural dos trabalhadores.

                                                                                                  Lenito    

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Exposição revela artistas combativos:

A exposição Gravura e Modernidade, em cartaz na Estação Pinacoteca, em São Paulo, revela não apenas importantes artistas brasileiros: ela nos mostra que vários deles eram artistas de esquerda, comprometidos com a denúncia e a crítica social. A exposição traz dentro do recorte histórico que vai da década de vinte até a década de sessenta, uma reunião de gravuras que integram-se ao melhor do legado de nossa arte moderna.
  A arte de cunho social revela-se em vários trabalhos. Caberia destacar por exemplo Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi, ambos engajadíssimos. O evento traz ilustrações de Goeldi para o romance Mar Morto, de Jorge Amado. Verificamos neste caso em particular, um encontro fecundo entre a literatura que apresenta o realismo social com uma concepção de gravura que não apenas ilustra mas potencializa, sob o ponto de vista estético e político, as intenções progressistas do romance. Imperdível


                                                                                        Geraldo Vermelhão

O cinema político precisa se comunicar com os trabalhadores:

Quando um público não familiarizado com discussões estéticas, depara-se com filmes que fogem do esquematismo da indústria cultural, é comum que alguns espectadores caiam no sono. É culpa do público ou é o cineasta que não consegue se comunicar com a massa? Claro, o paternalismo é sempre terrível, sobretudo em arte. A liberdade do cineasta é indiscutível, não cabendo nenhum tipo de restrição quanto ao seu processo criativo. Entretanto, o problema permanece: como sair dos guetos cinematográficos, do sofisticado oásis cult,  e atingir o grande público, que vem sendo amamentado a vida inteira pelo lixo do cinema comercial? Um cineasta sem perspectiva ideológica combativa, pode ignorar este problema. Já o cineasta engajado não.
O filme não pode ser uma mera abstração, mas um produto cultural capaz de fazer o espectador reconhecer(ainda que pela ficção, seja ela ambientada no século XVI ou no século XXI) aspectos essenciais da sua realidade. A reflexão social que surge a partir do filme e apresenta novas informações(e novas sensações), torna-se expressão cultural de um povo quando este entende o cinema enquanto conhecimento prazeroso. Não se trata de apelar unicamente para os sentidos de quem assiste, mas compreender que a problematização do real no filme requer uma dinâmica estética compatível com a realidade cultural e política do espectador. Estaria eu defendendo a simplificação do filme, que poderia assim confluir para o plano do folhetim ou do quadrinho? Se o folhetim ficou no século XIX, a linguagem dos quadrinhos é moderna e ágil  como o próprio cinema. Poderíamos elencar ouros gêneros modernos contemporâneos do cinema. Mas o objetivo aqui é o seguinte: radicalidade estética e política são compatíveis com diversão e a própria noção de espetáculo popular.
  Seria artisticamente ridículo utilizar a linguagem hollywoodiana para inserir no filme uma análise marxista. É uma baita contradição de termos. Entretanto, o velho Brecht já afirmava que o caráter político revolucionário não exclui formas populares, de diversão, na composição da obra de arte. Estejamos atentos a isto se quisermos que o público acompanhe o debate cinematográfico.

                   
                                                                              Lúcia Gravas 

domingo, 16 de novembro de 2014

Os militantes da cultura não suportam mais nenhum golpe de Estado:

Quando observo em redes sociais e manifestações de rua, pessoas pedindo que o exército brasileiro dê um golpe de Estado, sou tomado por um sentimento de horror. Não é preciso ser historiador para compreender os prejuízos políticos, culturais e econômicos que o golpe de 1964 trouxe para o Brasil. Censura, prisões, torturas e assassinatos: estes são os frutos históricos da ditadura militar. Cabe salientar que não eram apenas os comunistas que eram alvo da repressão: mesmo aqueles que não faziam a menor ideia do que é luta de classes, podiam dançar já que todo o poder estava nas mãos de um governo autoritário. Agora, cinco décadas depois, algumas pessoas(dentre elas estudantes  e artistas, rs) tomadas pela fúria direitista, pedem por um novo golpe! Se estes optam pela barbárie, pelo autoritarismo, os militantes de esquerda não podem ficar calados. Não se trata apenas de ser contra ou a favor do governo, já que muitas organizações de esquerda não compactuam com este. O que está em questão é uma ofensiva ultra direitista que é hostil a própria democracia, e logo inimiga das formas culturais que integram um projeto político popular e anticapitalista.
 Especificamente aqueles que como nós lidam diariamente com a militância cultural, precisam defender a necessidade de não submeter o Brasil novamente a uma onda direitista. Mais do que antes, precisamos cantar, cantar, cantar e cantar contra as forças políticas inimigas de toda e qualquer forma de liberdade.


                                                                                                        Tupinik

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Os artistas proletários do grupo Santa Helena:

Na História da arte brasileira, é comum encontrarmos artistas de classe média pintando cenas populares. Mas quando encontramos trabalhadores pintando trabalhadores e cenas do cotidiano, isto leva ao incomodo de especialistas. Artistas populares são esculhambados pelos críticos nem tanto pela questão técnica, mas pela sua origem socioeconômica. Ou seja, quem é ferrado e sem grana não penetra nos círculos da elite artística. Se hoje ainda é assim, o mesmo já ocorria na década de trinta: o grupo Santa Helena por exemplo, desafiava posições de poder, de classe, dentro da arte brasileira de então.
 Composto essencialmente por imigrantes europeus como Francisco Rebolo, Mário Zanini e Alfredo Volpi, o grupo Santa Helena envolvia artistas autodidatas e de origem proletária. Foi Mário de Andrade quem definiu o grupo como sendo o dos " artistas proletários ". E eram mesmo: entre trabalhos manuais, como pintar paredes e exercer funções operárias, estes artistas desafiavam a elite paulistana e seus preconceitos de classe. Dando passeios pelos arredores da cidade de São Paulo, os membros do grupo Santa Helena pesquisavam as cores, as paisagens e os tipos humanos da região. 
  Em nome de uma cultura produzida por trabalhadores, precisamos valorizar a produção artística dos trabalhadores.

                                                                                        
                                                                                          José Ferroso   

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Homenagem a Leandro Konder:

 Estamos profundamente abalados com a morte do intelectual marxista Leandro Konder. É uma perda incalculável para o Brasil, já que o que mais faz falta hoje são pensadores progressistas como Konder. O autor representa sem dúvida uma renovação no pensamento marxista no Brasil: foi ele quem chamou a nossa atenção para o chamado marxismo ocidental. As ideias de autores como Lukács e Gramsci ganharam força com o trabalho de Konder. Na campo da reflexão cultural e mais especificamente estética, Leandro Konder nos brindou com obras fundamentais, tais como o clássico livro Os Marxistas e a Arte, de 1967. Graças a trabalhos como este, encontramos uma fecunda análise da estética marxista. 
  Valeu  Konder!


                                                                 Conselho Editorial Lanterna

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A atitude " beat " faz bem para o artista de esquerda:

Nada mais chato do que um militante comunista que não sabe estalar os dedos. Na verdade, o comunista precisa estar atento a todo complexo repressivo que compõe a sociedade burguesa: a luta contra os interesses capitalistas que atinge o cerne do problema social, precisa ser acrescida de uma visão libertadora da personalidade, da expressão e da sexualidade. Ao mesmo tempo em que o marxismo nos fornece uma insuperável análise da História, outros importantes ingredientes contemporâneos nos ajudam a experimentar formas de comportamento que não contradizem mas ajudam na conduta revolucionária. Este é o caso da Beat Generation.
 Não entendo o motivo de separarem rigorosamente a militância comunista das manifestações contraculturais. Diferenças filosóficas existem, é claro: sabemos que não é possível transformar a cultura sem modificar as bases materiais que a sustentam. Portanto seria um equivoco político supor que simplesmente " cair fora " da cultura dominante, resolva o problema. Este foi o erro dos beats, que viviam de caronas, improvisando a vida, confundindo-se com lupens(embora muitos beats fossem de classe média na origem) e se autodestruindo na maioria das vezes. Feitas estas reservas sobre as características políticas idealistas dos beats (e das posteriores formas de contracultura), não podemos deixar de levar em conta o alcance libertário que sua literatura e sua arte em geral possuem. Infelizmente, raríssimas vezes a esquerda compreendeu a importância da contracultura. Nos anos 50, a revista literária norte americana Partisan Review, um importante veículo marxista independente, desceu a lenha nos beats acusando sua literatura de romântica e calcada no niilismo boêmio. Mas como é que não perceberam que Ginsberg, Kerouac e companhia inauguravam uma nova literatura, uma nova linguagem, uma nova atitude de contestação perante a classe dominante? Este tipo de juízo moralista é comum entre vários comunistas. Ao invés de debater o assunto, muitas organizações de esquerda preferem simplesmente rotular(para desqualificar) aquilo que foge do seu controle burocrático.   
 Um músico, um poeta ou um pintor que fazem parte da oposição artística contra a sociedade capitalista, tem muito a ganhar com a criatividade beat: sensualidade, protesto, liberações dionisíacas, fluxos do inconsciente, incorporação da fala das ruas, etc. Se em 1968 encontramos algumas exceções que revelam o diálogo entre a esquerda e a contracultura,  hoje mais do que antes necessitamos deste tipo de diálogo: referências políticas e culturais altamente conservadoras, andam bloqueando nos jovens a sua capacidade natural de contestar a ordem estabelecida. É preciso abrir os olhos da rapaziada. O que precisamos entender hoje é que marchar e dançar podem ser uma única e mesma coisa para os militantes de esquerda.

                                                                                                      Tupinik